O cicloturismo e a loucura

Coloquei Lady Laura pra dentro e a encostei na beirada de uma cama redonda e vermelha... Doidisse... Hoje completo um ano e meio de viagem. Quero comemorá-los comentando uma coisa que, há muito, me atazana o juízo. De todas as coisas que escutei sobre minha viagem, há sempre uma constante... a palavra: loucura. Muitas vezes me pergunto se o que estou fazendo é realmente loucura. Neste tempo todo aprendi a cozinhar, a falar espanhol, respirei ar puro, fiz exercícios quase que diariamente, trabalhei minha timidez, aprendi a rir dos meus defeitos, fiz amigos, poluí o meio o menos que pude, me alimentei bem, vivi com simplicidade, fugi do estresse.... Deus! Onde está a loucura disso tudo?!

 Viver trabalhando pra pagar contas, meter-se na engrenagem torturante do mercado, comprar e comprar, achar que uma roupa pode dizer quem se é, viver estressado e num ambiente poluído.... não seria isso loucura? A gente carrega uma idéia bem esquisita da insensatez. Ora, loucura é o tempero da vida! Tudo que se faz de grandioso pede um pouco de loucura. Viva racionalmente o tempo todo, baseie seu existir na sensatez e verás a chatice em que você tornou sua vida. Jesus, Buda, São Francisco, Einstein, Santos Dumont, Gandhi, Charles Chaplin, Van Goghi...todos esses, um dia, não foram chamados de doidos? E a única coisa que fizeram foi obedecer a seus corações. Então, o que é loucura afinal? Vale a pena ser normal?

Casa das Máscaras - Uruguai

Quem é normal? “

A tristeza mora no coração dos sábios, a alegria no coração dos loucos” –
Erasmo – Elogio a Loucura “

A todo custo a ‘sensatez’ é perigosa, constituindo uma força destrutiva da vida” –
Nietzsche – Ecce Homo

tocando para um gatinho - Chile

Rafael Limaverde
Artista plástico de Fortaleza. 
Em 2002 iniciou uma imensa jornada de bicicleta pela América Latina.
Escreveu este artigo de Curitiba - PR
http:/bicicletapelomundo.com.br/