Desafio nos Andes

Desafio nos Andes Cezar Cattani, Fábio Zander e Mauricio V. Estevez, conseguiram realizar um grande sonho: pedalar do Oceano Pacífico até o Atlântico, cruzando a difícil Cordilheira dos Andes e admirando a linda Patagônia Argentina.  A pedalada começou na cidade litorânea de Puerto Montt, no Chile, passando por Bariloche (Arg). Nossa resistência foi testada até Rawson (Arg) na costa Atlântica, onde pudemos nos maravilhar com as belezas naturais da Península Valdes (as colônias de lobos e elefantes marinhos) e Punta Tombo, onde haviam por volta de 800 mil pingüins. Estávamos bem equipados: utilizamos alforjes dianteiros e traseiros (tipo de mochila adaptável a bicicleta), que caregavam todo nosso equipamento (roupa, barraca, peças de reposição e alimentos) pesando entre 35 e 40 kg. Alguns quilômetros para nos adaptarmos com o peso e equilíbrio das bikes , e já avistávamos os picos de neve, entre eles o belíssimo vulcão Osorno, com 2652m de altura. Deste Petrohue até Llao Llao, fomos massacrados por uma gangue de mutucas raivosas, uma espécie de abelhas gigantes negras, que tinham uma picada dolorida e que não largavam do nosso pé. Tivemos que aguentá-las durante muito tempo. Cruzamos os lagos "Todos los Santos" e "Nahuel Huapi" de barco, sempre atônitos com tanta beleza à nossa volta. Entre eles existe uma pequena vila, com um luxuoso hotel, chamada Peulla. A partir desse ponto, entre as fronteiras do Chile e Argentina, foi o trecho mais dificil da viagem, uma verdadeira prova de fogo. Pegamos uma subida de 800m de altitude em 6 km, em uma triste estrada "ripio"(terra e pedras). A subida foi severa conosco, ficamos cansados e quase não aguentávamos os ataques das mutucas gigantes, mas por outro lado tínhamos a beleza da região e do imponente Monte Tronador, com 3478m de altura. No meio da ladeira encontramos um brasileiro e um alemão que faziam a descida da Cordilheira, indo para o Chile. Cruzando os lagos chegamos em Llao Llao, onde acampamos atrás de uma padaria. Pedalando logo cedo até Bariloche nos hospedando em uma pousada.Descansamos bastante em nosso Ano Novo, nos preparando para continuar, demos uma boa ajeitada em nossas bicicletas Aplicando graxa e tirando terra e colocando o pneu slick (pneu para asfalto), já que a partir desse ponto só teríamos alfalto pela frente.

Saímos de Bariloche com destino ao Sul, até a cidade de Esquel, a última cidade com estrutura para turistas até a costa. O sol era forte, o ar seco e o vento estava contra nós, aonde até nas descidas precisávamos pedalar forte para sair do lugar. Nossa média de velocidade chegou a ser de ridículos 4 km/h, mas tivemos nossa glória: a estrada fez uma curva e durante 5 km ficamos a favor do vento. Nessa hora nossa velocidade foi de 26 km/h, sem pedalar. Aos poucos a paisagem com lagos cristalinos, árvores e muito verde, foi se acabando, dando lugar `as poucas cores do deserto. Tudo se transformava em uma terra arenosa com pequenos arbustos por todos os cantos. A cidade de Tecka deu início ao trecho do deserto da Patagônia, de aproximadamente 500 km, quando mudamos de estrada para seguir a leste. Aí é que a paisagem foi quase igual o tempo todo, com exceção de alguns trechos rochosos, até as proximidades de Trelew, a maior cidade do estado de Chubut, cidade vizinha de Rawson, a capital do estado. Durante esses 500 km a estrada era quase que só nossa, porque pouca gente circulava pela região. Avistamos vários animais da região, pássaros, coelhos (a maioria eram meio-coelhos, porque haviam sido atropelados) e tatus. Dormíamos próximo das cidades, todas com pouca gente, sem estrutura e muito caras. Foi nessa etapa que percorremos a maior distância em um só dia: 166km.

Chegado em Trelew, descansamos alguns dias em uma pousada e aproveitamos para tomar banho, já que na partre do deserto só tomamos banho umas três vezes. Por fim fomos à Praya Union, um povoado litorâneo situada a 5 km de Rawson, na costa Atlântica, cumprindo no nosso objetivo de ir de um oceano ao outro em cima da bicicleta. Fizemos nossos passeios à Península Valdes e Punta Tombo de ônibus acompanhados de guias, já que não é permitido a entrada de bicicletas ou motos nas reservas.

 

PUNTA TOMBO
É uma reserva com diversas aves marinhas e costeiras, e com a maior colônia continental de pingüins de Magalhães (ou seja, que não migram até a Antártica, só até o Estreito de Magalhães).  São esta espécie de pingüins que ocasionalmente aparecem no Brasil.  Durante dezembro e janeiro existem entre 450 e 850 mil pingüins, calmos e curiosos, na região. As fêmeas botam os ovos em meados de outubro, após 40 dias de incubação, nascem os filhotes. Podíamos chegar tão perto que daria para tocá-los, mas não podíamos devido normas do parque. Os adultos são de coloração preto e branco, e os filhotes com uma pelugem cinza. Todos caminham normalmente, mesmo com estranhos a sua volta.

PENÍNSULA VALDES
Rodeada pelo Oceano Atlântico, são no Golfo San José e no Golfo Nuevo onde são avistadas as baleias francas austrais, infelizmente não as vimos por estarmos fora de época. Entrando na grande Península avistamos a "Isla de los Pájaros" com uma diversidade de aves enorme no qual sua maioria são as Gaivotas, Garças e os Biguás, também são vistos alguns Flamingos na ilha. Toda a península é ligada por estradas de terra (ripio), numa fauna seca e dourada. Podíamos avistamos de longe as colônias de guanacos (parente da Lhama). Puerto Pirámides, próximo `a entrada da península, é uma praia bonita, onde muitos turistas param para descansar e se alimentar.  Na ponata norte está a elefanteria. Muitos elefantes marinhos de quase 3 metros de comprimento, preguiçosos, tomando banho de sol, estavam na época de trocar seus pelos. Um pouco mais adiante passamos pela Loberia. Estes são mais ativos: além de serem menores, são barulhentos e havia uma quantidade grande deles. Tivemos o privilégio de presenciar o nascimento de um filhotes, que caiu do platô diretamente na água, onde muitos filhotes se esforçavam para subir. Alguns filhotes mais fracos não agüentam o agito das ondas e morrem. Rodamos aproximadamente 340km de ônibus dentro da Península por estradas de terra, indo de uma atração para a outra. Esse passeio vale a pena para qualquer admirador da natureza.

O CICLOTURISMO
O cicloturismo é uma arte, de ver tudo, presenciar cada detalhe que provavelmente seriam omitidos ou nem percebidos viajando de carro ou moto, além de ser muito mais barato. O cicloturismo no Brasil pode e deve ser mais divulgado. Encontramos ciclistas, brasileiros, europeus e norte americanos que praticavam o mesmo esporte, cada um fazendo sua trajetória. Conseguimos realizar nosso sonho. Esta viagem abriu ainda mais nossos olhos, para imaginar mais um roteiro a ser realizado num futuro próximo. AGRADECIMENTOS Gostaríamos de agradecer ao patrocinador especial Hoechst Schering AgrEvo do Brasil Ltda. que nos ajudou a realizar esta aventura do Pacifico no Chile ao Atlântico na Argentina, cruzando a grande Cordilheira dos Andes. Foram 24 dias bem longe de casa. O saldo desses 1200 km: alguns raios quebrados, 3 câmaras e dois pneus furados e, é claro, muita força e raça para carregar todo aquele peso.