Zé do Pedal no rio São Francisco

"Dói ver a tristeza estampada nos olhos do barranqueiro, quando lembra com saudades do Velho Chico". (Zé do Pedal)

O ciclista mineiro, José Geraldo de Souza Castro (Zé do Pedal), terminou uma viagem em um pedalinho pelo rio São Francisco até sua foz, depois de três meses. Zé do Pedal foi recebido na foz do Rio São Francisco, em Piaçabuçu (Alagoas), que está localizada a apenas 13 km da foz do rio São Francisco, sendo esta a última cidade ao longo de seu curso. O ciclista informou que recebeu muito apoio por parte dos barranqueiros que habitam a margem do grande rio, o que contribuiu em muito, para que a viagem fosse realizada com sucesso.

"Geralmente a noite, parava para dormir em alguma ilha ou na casa de algum barranqueiro quando aproveitava para aprender mais sobre a vida na beira do Velho Chico,e quando começávamos a conversar sobre o rio, os olhos dos barranqueiros enchiam de lagrimas, e dói, dói ver a tristeza estampada nos olhos do barranqueiro, quando lembra com saudades do Velho Chico, quando ele lembra dos tempos áureos, da bonança dos peixes, das farturas da roça". Talvez o momento mais marcante da viagem, tenha sido quando da minha chegada a Pirapora, e encontrei com "seu Coló" que me disse: "Olha menino, eu vi quando o Benjamin Guimarães (o vapor) subiu o rio pela última vez, mas tenho certeza, que não o verei descer mais. O rio está seco".

O rio São Francisco nasce preguiçosamente a 1285 metros sobre o nível do mar, na Serra da Canastra no município de São Roque de Minas em Minas Gerais, serpenteando, ele percorre os estados da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe até chegar ao mar. Durante o seu percurso, o rio atravessa o semi-árido nordestino tornando-se um fator fundamental para a economia da região, ao permitir uma intensa atividade agrícola em suas margens e ainda oferecer condições para a irrigação artificial em áreas mais distantes, amenizando assim, um pouco do sofrimento dos brasileiros que habitam aquelas paragens.

Lamentavelmente, nem tudo são flores no caminho do Velho Chico; "um dos grandes problemas do rio, é o lixo e os esgotos que são jogados no rio sem nenhum tipo de tratamento, o que vem comprometendo a qualidade de suas águas. Dez por cento da população brasileira depende diretamente das águas do Velho Chico e seus afluentes. É uma situação deplorável, aja vista que quase a totalidade das cidades banhadas pelas suas águas, não tenham uma Estação de Tratamento de Esgoto.

Mais que um absurdo, é uma berrante agressão ao meio ambiente e um desrespeito aos seres humanos. Milhares de sacos de plástico, latas, garrafas Pet, e até pneus usados, televisores e tanquinhos de lavar roupa descem o rio diariamente". Ainda de acordo com o ciclista, um dos principais poluidores do São Francisco, é o rio das velhas, que despeja no rio a maior parte deste material. "Este rio (o das Velhas) é o principal afluente do Velho Chico, lamentavelmente, também é ele, um dos seus maiores poluentes.

Apesar dos pesares, o São Francisco é um rio místico e que conta muito do sonho brasileiro, é uma maravilha que se renova a cada dia com sua beleza e mistério. Zé do Pedal tem motivos de sobra para sorrir, quando fala desse trecho que foi a última etapa de sua viagem pelo rio São Francisco: "É uma região muito bela e em muitos trechos pode-se ver um dos cânions mais belos do mundo. Cânion esse que serve de divisa entre os estados de Bahia - Pernambuco e Alagoas - Sergipe.

Soma-se a isso a riqueza histórica e cultural dos lugares por onde passei, como por exemplo, a Furna do Morcego, uma gruta encravada em uma das paredes do grande canion nas proximidades de Paulo Afonso-BA onde o cangaceiro Lampião e seu bando se escondiam. Um outro ponto é a Gruta de Angicos, onde em 1938 o famoso cangaceiro e dez homens de seu bando foram mortos e suas cabeças cortadas e expostas em praças públicas em diversas cidades".

Dentro desse grande roteiro cultural está a cidade de Penedo-AL, uma das primeiras cidades surgidas às margens do Velho Chico. Este rio, descoberto em 04 de outubro de 1501, pelo navegante Américo Vespucio, traz em suas margens muita história, que precisa ser resgatada urgentemente pelo Poder Público, pois o Brasil corre um grande risco de perder uma importante parte deste acervo. Lamentavelmente, grandes monumentos arquitetônicos estão em completo abandono e alguns até correm o risco de desabar. São 500 anos de história, abandonada.

Desde o seu descobrimento até os dias de hoje, o Velho Chico vem desempenhando um papel de relevante importância na ocupação territorial, sendo o caminho preferencial para as Bandeiras. O "Rio da Unidade Nacional", também foi o caminho usado por aqueles que buscavam no interior do país, ouro e pedras preciosas. Também vieram os criadores de gados, plantadores de algodão, madeireiros, artistas, pintores, poetas e grandes escritores como Guimarães Rosa, Euclides da Cunha, Graciliano Ramos, Ariano Suassuna, entre outros.

Durante minha viagem ao longo do rio encontrei vários desses artistas, pintores, poetas e escritores, alguns no mais completo anonimato. São pessoas que lutam pela preservação do Velho Chico. Mais do que isso, lutam pela preservação de nossa história. Foi muito emocionante viver este momento no VELHO CHICO". Concluiu o Ciclista. O próximo projeto do Zé do Pedal terá início no dia 22 de março de 2003, quando o ciclista viajará de Nova York ao Rio de Janeiro em um barco a pedal feito com material reciclável, cobrindo uma distância de aproximadamente 23.000 quilômetros. O projeto denominado "Da Liberdade ao Cristo", tem por objetivo procurar conscientizar a todas as pessoas da urgente necessidade de manter limpos nossos rios, lagos e oceanos, principalmente as nascentes. De acordo com o ciclista, "caso continuemos a poluir e não cuidar nossas águas, o futuro da vida no planeta estará ameaçado. Deve ser prioridade da vida de todo cidadão fazer a sua parte. Só assim estaremos evitando guerras, acredite, por um simples copo... de água".

"Por esta razão, quero chamar a atenção do mundo, fazendo um apelo ao aglomerado humano através desta viagem, de tal maneira que as diferentes organizações sociais (governamentais, não governamentais, políticas, intelectuais e econômicas) - a nível mundial - se juntem a esta causa, que pretende alcançar importantes resultados de interesse internacional. Só assim, mediante um trabalho interdisciplinar, poderá gerar condições de sensibilizar um maior número de pessoas sobre os problemas fundamentais da água no planeta, através da difusão de fotos e dados dos resultados desta viagem". Concluiu Zé do Pedal. O pedalinho que foi usado na viagem mede 2.40 x 1.20 m e pesa 117 kg, e foi cedido pela empresa PLAYBALSA (www.playbalsa.com.br), da cidade do Rio de Janeiro. Zé do Pedal batizou o pedalinho de "Sir Blake". Uma homenagem póstuma ao navegador neozelandês Sir Peter Blake, que havia partido desde Auckland, Nova Zelândia, em novembro de 2000 a bordo do veleiro "Seamaster", e tinha como objetivo educar a população nos quatro cantos do mundo sobre a importância de proteger o meio ambiente, ajudando assim, a proteger as águas do planeta e outros ecossistemas. A viagem de Peter Blake era parte de um projeto de exploração, organizando expedições a áreas estratégicas do Planeta, como a Antártica, o Ártico e grandes rios como o Nilo e o Amazonas.

Peter Blake não pode continuar seu sonho de ver um mundo melhor para todos nós: o herói morreu assassinado covardemente a tiros quando seu barco (um dos veleiros mais sofisticados do mundo) estava ancorado na praia da Fazendinha, a 17 quilômetros de Macapá, foi invadido por um grupo de assaltantes que queriam roubar um bote inflável, relógios e um motor de popa. A tripulação reagiu ao assalto, e Peter morreu, aos 53 anos, com dois tiros pelas costas. Peter havia acabado uma importante etapa de seu projeto, a Amazônia, e na manhã seguinte daquele fatídico cinco de dezembro de 2001, zarpariam rumo a Venezuela. Para realizar a viagem pelo São Francisco, Zé do Pedal conta com o apoio das seguintes empresas: Vurk Design, Caminho das Pedras, Playbalsa, Transportes Eureka, Number One Instituto de Idiomas, prof. José Américo Garcia e Sebastião Dini.

As pessoas, empresas e entidades que queiram entrar em contato com o Zé do Pedal:

http://www.zedopedal.com.br/contato/