Viagem ao centro da América

VIAGEM AO CENTRO DA AMÉRICA

Pantanal

            - Alô, Luis?
            - Fala Vitão!
            - Cê lembra daquela idéia de pedalar pelo Mato Grosso? Pois é, tô indo no final desse mês. Vambora?
            - Bora lá!!

 

A viagem de ônibus até Cuiabá parecia goteira. Um pinga-pinga que não acabava mais, passando por pacatas e desconhecidas cidadezinhas de quatro Estados diferentes. Estávamos acostumados com o frio de inverno da capital paulista, por isso quando descemos do ônibus, ainda embriagados pela noite mal dormida e o refresco do ar condicionado, tivemos um choque. O termômetro da rodoviária de Cuiabá marcava 38 graus. O detalhe, é que chegamos às nove da noite.

 Desembarcamos as bikes do bagageiro e dali para frente seria assim; só pedalando. Nos dias seguintes, conhecemos a cidade e demos entrevista para a TV local que se interessou pela aventura. Pedalaríamos para a Chapada dos Guimarães, famoso Parque Nacional e paraíso dos eco-turistas. Depois, seguiríamos para o Sul, atravessando de ponta a ponta a Estrada-Parque Transpantaneira.

Ela corta o Pantanal Matogrossense e pode-se observar e fotografar toda a fauna e flora de um dos ecossistemas mais biodiversificados do mundo. A escolha de ir de bicicleta e não de carro, surgiu exatamente por este ser um veículo mais ecológico e divertido. Não polui, é silencioso e segue num ritmo mais lento, o que leva a curtir melhor os visuais, os animais e a cultura local.  Da capital até a Chapada, foram 65Km por uma estrada asfaltada e muito bonita. Ao longo do percurso, já podíamos ver as majestosas escarpas, paredões e cânions, característicos deste tipo de paisagem.

São vestígios das transformações ocorridas no velho Continente Sul Americano e na História do Planeta. Através de satélite, o IBGE localizou ali, o exato Centro Geodésico da América do Sul, ou seja, a Chapada está localizada num ponto eqüidistante entre o Atlântico e o Pacífico. Atualmente a Chapada abriga representantes dos quatro maiores ecossistemas do País, a Floresta Amazônica, o Cerrado, o Pantanal e até espécimes da Mata Atlântica.

Voltando à nossa aventura, levamos na bagagem uma corda de cem metros e equipamentos de montanhismo pois sabíamos encontrar grande número de cachoeiras e cavernas onde praticaríamos técnicas como o “Rapel” e o “Canyonnig” ( descidas de corda em abismos e cachoeiras ). Na verdade existem mais de trezentas cachoeiras na região e a mais famosa é a do Véu de Noiva com 86 metros de altura. Uma maravilha!! Passamos uma semana explorando cavernas, trilhas, matas, rios e cachoeiras. Pedalamos mais duzentos quilômetros dentro do Parque Nacional. Escalamos, praticamos rapel e conhecemos muita gente boa. Inclusive, é preciso frisar a hospitalidade e simpatia do povo na Chapada. Algo que não existe mais em certos lugares.

 Jacarés, cervos e tuiuiús num santuário ecológico

 Cem quilômetros ao sul de Cuiabá a estrada de asfalto transforma-se em terra e recebe o nome de Transpantaneira.

 

É praticamente um retão de 160Km com bastante pó e cerca de 170 pontes de madeira. Pontes estas, que parecem resistir aos anos graças à alguma força sobrenatural. A estrada, na verdade é um Parque com fiscalização do Ibama e é expressamente proibido caçar ou perturbar os animais selvagens que ali vivem em harmonia. O que reina é a lei da selva, da sobrevivência, do mais forte. Comendo ou sendo comidos, eles possuem um equilíbrio perfeito. Coisas da Natureza! Na Transpantaneira, são poucos os que se aventuram sem um carro como nós, pois dizem que se ficar na estrada à noite, na hora em que as onças saem para caçar, você vira sua presa na certa. E realmente vendo tudo aquilo, não é difícil de acreditar.

 Os únicos vestígios de “civilização” em todo o trajeto são algumas fazendas que viraram pousadas para os que estão na estrada. Pode-se dormir com conforto e segurança, ouvindo o rugido das onças e o escândalo dos bugios.

Os animais podem ser vistos perto da estrada, como macacos, jacarés, cervos, tucanos, araras, capivaras, tuiuiús, catetos, entre outros.

 

É uma emoção indescritível ver um animal destes em seu habitat natural. Uma felicidade termos tudo isso no nosso País!  

A estrada termina no rio Cuiabá, já na divisa com o Mato Grosso do Sul. Pedalamos um total de 500Km, sendo a metade em estradas de terra. Foi uma experiência incrível e aconselho a qualquer brasileiro conhecer este “Brasil Selvagem”, mas sempre lembrando do Lema do Ecoturismo:

  - Nada se tira senão fotografia.

 - Nada se mata senão o tempo

- Nada se leva senão recordações.

 - Nada se deixa senão pegadas.