por Rodrigo Telles -
Estar fora de forma não é desculpa para deixar de fazer uma viagem de bicicleta.Ou melhor, o que queremos dizer é que a viagem de bicicleta é que deve ser uma boa desculpa para nos colocarmos em forma. Dizemos isso, pois, ao contrário do que muita gente pensa, não é necessário ser nenhum atleta para fazer uma viagem de bicicleta. Praticamente qualquer pessoa pode se tornar um cicloturista. A prova disto é que a maioria dos cicloturistas não são atletas.
Qual é a dificuldade de se estabelecer um treinamento para o cicloturismo?
O cicloturismo não é como as competições, por exemplo, em que se sabe de antemão, com uma boa precisão, o tempo e a distância do percurso a ser cumprido. No cicloturismo, não existem regulamentos então, se você quiser pedalar diariamente 120km em 6 horas ou então 50km em 8 horas, não tem nada que te impeça.
A partir daí, já se pode ver que o treinamento também é um tanto livre. Depende mais do seu objetivo e das condições físicas em que você se encontra. Se você quer fazer uma viagem, como se diz, comendo chão, com média de 20km/h ou mais, então vai ter que treinar neste nível. Agora, se velocidade e quilometragem não são coisas tão importantes para você, então o treinamento pode ser mais leve, visando apenas uma preparação da musculatura e principalmente da resistência física. A musculatura referida é do corpo todo e não só das pernas. É importante que braços, costas e pescoço também estejam familiarizados com a posição. Além das nádegas é claro, que irá passar muitas horas, ou melhor, dias apoiada no selim.
Então como dimensionar esse treinamento? Essa é uma questão que não tem uma resposta muito precisa. É um tanto pessoal. O importante é que não haja degraus muito grandes entre cada um dos treinos, e entre o treino e a viagem. Podemos, por exemplo, enxergar o treinamento como algo parecido com uma rampa. Começa lá embaixo, nas condições físicas que você se encontra no início e vai subindo suavemente até o objetivo que você acha plausível atingir.
Mas o importante é não querer estabelecer um tempo fixo entre o início e o fim da rampa, isto é, não forçar o organismo a se adaptar a um planejamento feito no papel. Cada organismo reage de forma diferente ao treinamento, uns respondem mais rapidamente e outros menos. Assim, a não ser que você tenha um treinador pessoal e se submeta a diversos testes (o que não é indispensável para um cicloturista), vá aumentando o tempo de treino, as distâncias e o esforço físico de forma natural, um pouquinho de cada vez.
Treinamentos forçados, que exigem esforços físicos acima do que se está acostumado, causam muitas vezes lesões de recuperação muito lenta, como distensões ou problemas de joelho, que normalmente inviabilizam ou pelo menos adiam a viagem pretendida por um longo tempo.
No caso de uma competição, por exemplo, a tal rampa de treinamento teria seu ápice provavelmente antes do dia da prova. Esta é a grande diferença no caso de uma viagem. No cicloturismo, a viagem não precisa estar no fim da rampa. Você pode começar a viajar mesmo antes de estar na sua melhor forma física. Basta que você não esteja completamente sedentário e sinta que já tem condições de pedalar por muitas horas seguidas. E isto não é muito difícil. Depois, com o passar dos dias, seu condicionamento continua melhorando, e o ápice da rampa é atingido durante a própria viagem.
Sabendo das suas condições físicas, você vai adequando o planejamento das etapas diárias da viagem. É importante chamar a atenção para o fato de que nos treinos com a bicicleta descarregada a performance geralmente é muito mais alta. Por isso, tome o cuidado de levar isto em conta quando colocar peso em cima da magrela. Numa pedalada com bastante peso, em local de relevo acidentado, seu desempenho pode cair até pela metade. Assim, distâncias ou tempos não são boas medidas quando se trata de passar do treinamento para a viagem. É mais importante que o esforço seja mantido constante. E este é um tipo de medida onde não existem números, ou seja, é totalmente subjetivo, somente você pode avaliar.
Lembre-se que você é o dono da sua viagem. Se achar que precisa passar um, dois ou mais dias parados para um descanso após vários dias pedalados, não há motivos para não o fazer. A musculatura também precisa de descanso para se desenvolver bem.
Dicas:
- Não chegue próximo de seus limites. Mantendo uma folga para o organismo, sempre temos a garantia de que amanhã a viagem continua. E você nunca está livre de ter uma pequena surpresa como uma pedalada extra de 20 ou 30 km no final do dia, por conta de algum imprevisto.
- Faça alongamento sempre. O alongamento é um alívio para a musculatura tensa que trabalha por muito tempo. Alongue-se antes, durante e após a pedalada.
- Antes da viagem, faça pedaladas curtas com a bicicleta carregada para verificar a sua alteração de desempenho devido ao peso extra.
- Faça treinos longos, com a duração de um dia inteiro, pelo menos uma vez a cada dez ou quinze dias.