por Eliana Garcia para o Clube de Cicloturismo do Brasil
Como surgiu o cicloturismo no Brasil?
Bem, não é uma resposta simples, uma vez que depende de como se define o cicloturismo. Falo aqui sobre um pouco do que vi e ouvi desde que comecei a fazer viagens de bicicleta, em 1988.
Na minha opinião, todo o uso da bicicleta com finalidade de lazer e observação, e olhar apurado para o ambiente pode ser considerado cicloturismo, independente do número de horas ou dias que se exerce a atividade. Também considero cicloturismo, o turismo de bicicleta tanto em ambientes rurais quanto urbanos. Se levarmos em conta estes fatores citados, pode-se dizer que o cicloturismo começou junto com as primeiras bicicletas que desembarcaram no Brasil, no início do século passado, no Rio de Janeiro. Elas eram utilizadas primeiramente para passeios e piqueniques, principalmente por mulheres da alta sociedade.
Agora, em termos de números mais expressivos de praticantes, podemos dizer que foi após a chegada das bicicletas tipo mountain bike ao Brasil, no final dos anos 80. Isso porque, devido aos nossos motoristas inconsequentes, o perigo de nossas estradas asfaltadas é muito grande. Então com o surgimento das mountain bikes foi possível explorar um número extraordinário de estradinhas de terra tranquilas para pedalar.
Ao mesmo tempo surgiram os primeiros grupos de pedal noturno urbano, que passaram a se interessar também pelos passeios fora das cidades e surgiram as primeiras agências especializadas em turismo de bicicleta, assim como guias informais de passeios em grupo.
No início dos anos 2000 surgiram alguns roteiros de peregrinação, inspirados no Caminho de Santiago de Compostela, como o Caminho da Fé e o Caminho da Luz. Eles foram planejados essencialmente para viagens a pé e de cunho religioso. Mas os cicloturistas encontraram nestes caminhos uma ótima opção para viajar, e acabaram utilizando bastante estes roteiros, o que acontece até os dias de hoje.
Nesta época surgiram também várias marcas de equipamentos específicos para cicloturismo e os primeiros sites sobre o assunto, como o caso do Clube de Cicloturismo do Brasil, de 2001. Era o início do uso massivo da internet, o que propiciou um volume grande de troca de informações, resultando em crescimento do número de novos cicloturistas.
Um novo salto em número de praticantes foi dado com a criação do primeiro circuito oficial de cicloturismo do país, em 2006. Foi o Circuito Vale Europeu, que fica em Santa Catarina, com projeto técnico do Clube de Cicloturismo do Brasil. Pessoas sem experiência em navegação e planejamento de viagens puderam se preparar para uma primeira experiência em viagem de bicicleta. Desde então surgiram outros circuitos semelhantes e o crescimento cada vez maior do cicloturismo.
Em 2007 foi dado um grande passo para a qualidade e segurança dos serviços de turismo de bicicleta. Foram elaboradas as Normas de Turismo de Aventura – ABNT, sendo uma delas a de cicloturismo, e da qual participamos ativamente. Nesta norma constam todos os detalhes para se proporcionar um passeio ou viagem de bicicleta de forma segura, e tem servido para balizar o trabalho de organizadores de evento, agências e grupos de pedal.
Hoje, a maioria das cidades de grande e médio porte possuem grupos de pedal, que organizam passeios pelas redondezas de seus municípios. Este tem sido o primeiro contato com o cicloturismo para um grande número de pessoas. Outros indicativos do crescimento do cicloturismo no Brasil nos últimos anos é o aumento da oferta de produtos específicos de cicloturismo, assim como o número agências especializadas no segmento. Ainda, vários municípios já se interessam em ter sua própria rede de rotas de cicloturismo e é grande o número de brasileiros realizando viagens na Europa e outros países. Já chega à casa das dezenas o número de brasileiros que deram a volta ao mundo e há muitos livros publicados, assim como guias de trilha, inúmeros blogs, sites e páginas no Facebook.
O próximo grande passo (ou melhor pedal) a ser dado são os governos a nível estadual e federal passarem a institucionalmente incentivar a prática e traçarem um plano de desenvolvimento de rotas e circuitos de cicloturismo nas diferentes regiões turísticas do Brasil. Locais com potencial para abrigar rotas de cicloturismo certamente não vão faltar. Com certeza você mesmo conhece vários deles, não?