Houve um tempo em que a bicicleta era conhecida popularmente como "agitador de ossos". Levando-se em consideração que no passado as bicicletas eram feitas inteiramente de madeira e o calçamento das ruas de pedra, o apelido é perfeitamente compreensível.
Além do desconforto sugerido pelo seu apelido, outro problema sério que as primeiras bicicletas enfrentavam era o do rendimento.
Antes da invenção da transmissão por correntes e roda dentada, toda transmissão de movimento era feita por um pedal acoplado diretamente na roda dianteira. Na prática, isso quer dizer que para cada pedalada completa do ciclista, a bicicleta avançava uma distância equivalente ao comprimento da circunferência da roda dianteira, o que justifica o fato das primeiras bicicletas terem uma enorme roda dianteira.
Tal mecanismo, além de exigir generoso esforço do ciclista, possuía limitações para o aumento de rendimento, uma vez que o raio da roda dianteira não poderia ser maior do que o comprimento da perna do ciclista.
O mecanismo de transmissão usado hoje em dia para melhorar o rendimento consiste num conjunto de duas rodas dentadas, uma delas fixa com pinhão livre na roda traseira, que giram sob o comando de uma corrente.
As rodas possuem número de dentes diferentes, como por exemplo 14 e 42. Como o pedal está acoplado a roda dentada maior, cada volta do pedal (1 giro de 42 dentes) implica em três voltas da roda dentada menor já que 3.14=42.
Como a roda dentada menor é a responsável por transmitir o movimento ao conjunto, podemos dizer que a bicicleta avaliada avançará uma distância igual a três vezes o comprimento da sua roda traseira para cada pedalada completa do ciclista.
Recordando que o comprimento C de uma circunferência de raio R é dado por C=2¶R, e sabendo que as rodas de uma bicicleta típica tem 69 cm de diâmetro, cada pedalada implica em um deslocamento de 3.¶.69 cm, aproximadamente 6,5 metros.
Imagine que esse mesmo rendimento só seria atingido em uma bicicleta antiga sem sistema de transmissão por corrente se a roda dianteira tivesse mais de dois metros de diâmetro. Haja pernas, não?
José Luiz Pastore Mello: professor de matemática do Colégio Santa Cruz, consultor pedagógico e colunista do jornal Folha de São Paulo (suplemento Fovest). Incansável praticante do cooper, sonha um dia correr uma maratona, sem a ajuda da bicicleta, é claro!
publicado em Folha de São Paulo caderno FOVEST 24 de outubro 2002