Valdo foi padre e missionário a vida toda. Seu nome era Valdecir João Vieira. Viajou muito durante a vida. Ao se aposentar descobriu a bicicleta e começou a pedalar. Gostou, mas gostou tanto, que dizia com toda a convicção que agora sim tinha descoberto sua verdadeira vocação. Era pedalar. Ele saiu para o mundo. Mas antes fez viagens para se preparar. Foram viagens muito ousadas, principalmente para alguém que começou a pedalar depois dos 60 anos. Em 2003 e 2004 pedalou do Oiapoque ao Chuí. Perceba que ele já pensava grande. Depois fez a Carretera Austral, um roteiro extremamente árduo e ainda uma expedição pela Patagônia. Em 2006 e 2007 ele rodou Paraguai, Argentina, Bolívia, Chile e Uruguai. Ou seja, em pouco tempo tinha mais experiência do que a maioria dos cicloturistas do país, e era certo de que não iria parar. Valdo era muito forte e tinha uma determinação impressionante.
Escreveu três livros sobre suas aventuras de bicicleta: Pedalando Solitário do Oiapoque ao Chuí, Pedalando e Desvendando a Carretera Austral 30 dias com 500 dólares, e Pedal nas Nuvens Uma aventura na Bolívia, no Deserto de Siloli. Os livros eram vendidos (ainda estão a venda aqui) e a renda ajudava no seu atual projeto: uma Volta ao Mundo de bicicleta. Estava claro que esse seria o objetivo do Valdo, percorrer todo o planeta utilizando como meio de transporte sua paixão: a bicicleta. Para isso ele se preparou muito bem. Além de todas as viagens anteriores, que lhe deram experiência e preparo físico, ele também preparou uma bicicleta especial. Ela foi batizada de Tanajura devido ao grande compartimento de carga na parte traseira. A bicicleta era uma reclinada que oferece muito mais conforto que uma bicicleta comum, principalmente para longos períodos de pedal.
Montou o projeto Pedalando pela Paz e, depois de cerca de três anos lutando por recursos para viabilizar a viagem, finalmente pôs os pés na estrada para realizar seu grande sonho. Ele tinha muitos padrinhos e madrinhas, pessoas que se identificavam com seu sonho e o ajudavam com doações. Saiu do Brasil pelo Acre e iniciou sua jornada internacional no Peru. Atravessou o Equador e a Colômbia entrando na América Central. Panamá, Costa Rica, Nicarágua, Honduras, El Salvador, Guatemala, que são países muito pouco explorados por cicloturistas brasileiros. Ele escrevia sempre um diário bem detalhado que é uma boa fonte de pesquisa para quem deseja se aventurar por lá também. Finalmente chegou ao México. Sua intenção era atravessar todo este país, e continuar na América do Norte até chegar no Alasca. Ele estava muito feliz aproveitando muito a viagem. Ficava sempre hospedado no corpo de bombeiros ou nos postos da Cruz Vermelha, estava recebendo muito apoio.
No dia 24 de fevereiro de 2010, já bem perto da fronteira dos Estados Unidos, Valdo faleceu de morte natural, sozinho em sua pequena barraca. Morreu fazendo o que mais gostava e realizando seu sonho. Valdo sempre foi muito alegre e positivo e provavelmente gostaria que sua morte fosse encarada da mesma forma. Muitos de nós o teremos sempre como um exemplo de alguém que leva a sério seus sonhos. E ainda bem que o fez, aproveitando cada minuto para realizá-los.
Se quiser ler os diários do Valdo: http://sites.google.com/site/diariodovaldo/