Incontro Internazionale del Cicloturismo Brasil - Italia
7 a 14 - setembro 2013
Texto: Rodrigo Telles, publicado na Revista Bicicleta
Cem brasileiros reunidos no litoral da Itália para fazer cicloturismo. A ficha só caiu de verdade para nós quando, depois de estacionar as bicicletas, sentamos para tomar um café no calçadão para onde vão todos os turistas da cidade no fim da tarde, e para lá e para cá passavam brasileiros conversando sobre bicicleta e viagens. Alguns nós reconhecíamos de outros eventos aqui no Brasil, outros porque usavam camisetas de grupos regionais e outros ainda porque o jeito brasileiro se reconhece de longe quando se está no exterior.
O sentimento era de euforia, de querer aproveitar cada novidade do local e de conhecer os outros participantes. Era gente de todo canto do Brasil: Bahia, Rio Grande do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catariana, São Paulo, Minas Gerais, todos preparados para uma semana de imersão no cicloturismo.
A ideia de fazer um encontro fora do país surgiu do Clube de Cicloturismo do Brasil, que depois de doze anos realizando o Encontro Nacional de Cicloturismo em vários estados do país, sentiu a necessidade de avançar um passo. O Cicloturismo no Brasil amadureceu muito nestes anos. No começo éramos poucos, era o início. Agora, temos roteiros organizados, agências, grupos regionais e as pessoas já começam entender o que é essa atividade (tida como maluca) que fazemos. Hora de cruzar as fronteiras.
A Itália foi o país escolhido por algumas razões: a irmandade cultural devido à imigração, o interesse dos brasileiros pelas belezas e pela cultura do país, mas talvez a mais importante tenha sido a grande paixão que o italiano tem pela bicicleta. Parece que todos lá tem uma admiração especial por esse nosso veículo. Desde o guarda de trânsito até a senhora que está descansando na praça, todos nos olham com simpatia quando chegamos de bicicleta. Alguns até puxam conversa quando veem as nossas bicicletas “diferentes”. Lá eles não estão muito acostumados a ver mountain bikes, só utilizam bicicletas urbanas ou bicicletas de estrada. Então logo ficamos famosos na ciclovia da praia como “Os Brasileiros das Mountain Bikes”.
A cidade, Riccione, também já tem tradição no ciclismo. Lá se encontram alguns Bike Hotels, dentre eles o Hotel Dory, precursor deste tipo de empreendimento. Na maior parte do ano eles atuam exclusivamente recebendo ciclistas de diversos países. Por isso possuem uma ótima infra estrutura para quem pedala. Nosso hotel tinha um grande bicicletário fechado, área de lavagem, mecânico, guias ciclistas, roteiros montados e até um serviço gratuito de lavagem de roupas de pedalar. À noite já tínhamos nossas roupas limpinhas para o pedal do dia seguinte, uma comodidade e tanto.
A cada dia tínhamos um roteiro diferente para conhecer. Reuníamos-nos cedo, logo após o café, em frente ao hotel, já divididos em grupos de até 20 ciclistas. Todos os grupos percorriam mais ou menos o mesmo caminho, mas fizemos a divisão para facilitar no trânsito e nas paradas. Mesmo assim sempre nos encontrávamos no caminho ou nas paradas maiores. Cada grupo com um guia italiano e um brasileiro. Nem nós falávamos italiano, nem eles português. Incrível como na hora conseguíamos nos entender perfeitamente. A média de idade deles era bem maior que a dos guias brasileiros e paradoxalmente podemos dizer o mesmo do condicionamento físico também. Eles estão acostumados a guiar passeios de 100, 150km ou mais e ainda voltar para o almoço.
Mas nossos passeios eram bem menores em termos de distância, pois queremos pedalar, mas também queremos fotografar, bater papo, passear nas cidades, tomar o tão famoso sorvete italiano, ou seja curtir sem pressa. Não foi problema porque estradinhas e atrativos são o que não faltam na região.
Este estilo brasileiro de fazer cicloturismo fez sucesso entre os guias italianos. Eles estão acostumados a receber ciclistas de muitas partes dos mundo, mas para alguns foi a primeira vez que fizeram um passeio de mountain bike, e com um grupo tão alegre e descontraído.
Visitamos diversos castelos, cidadelas, e pontos de incríveis visuais. Pedalamos por estradas asfaltadas e até algumas trilhas de terra bem tranquilas. O transito lá é um destaque positivo que destoa muito do que temos aqui. Lá o motorista tem um grande respeito pelo ciclista. As estradas menores não possuem acostamento, e nem por isso são perigosas. Os motoristas esperam com toda paciência o momento de fazer uma ultrapassagem segura. Isso nos ajuda lembrar que não são as estradas aqui que são perigosas e sim os motoristas que nos oferecem risco. É claro que escolhíamos as estradas de menor movimento onde normalmente temos também mais natureza.
O passeio mais longo com uns 65km foi para a cidade San Marino, aliás cidade não, República de San Marino. É um minúsculo país cercado de Itália por todos os lados. Eles falam italiano, usam o Euro, mas tem total independência política. É a mais antiga república do mundo, data dos anos 300. A cidadela fica no alto de um grande morro a de mais de 700m. De um lado tem um penhasco e de outro a estrada que sobe fazendo curvinhas. Tudo é preservado e histórico lá em cima. Preservado de um jeito bem italiano, que mantém o rústico bonito.
É claro que o turismo é a principal atividade lá e o movimento até atordoa um pouco. Porém, é só sair do centrinho e ir seguindo as muralhas em direção às torres que ficam na crista do penhasco e já caímos nas trilhas em meio às rochas e grandes árvores. Lá das torres avistamos o Mar Adriático, que está a algumas dezenas de quilômetros num incrível ângulo que preenche quase 180° da visão.
Reuníamos o grupo todo à noite para assistirmos alguma palestra. Além de toda a diversão também queríamos sair de lá com mais conhecimento. Aprendemos sobre como eles lidam com a mobilidade urbana na região, recebemos informações sobre outros roteiros turísticos do Estado da Emília Romana que, aliás, é cheio de opções para os ciclistas, e também discutimos sobre os nossos roteiros aqui do Brasil. Mas o tema que provavelmente gerou mais curiosidade e debate, foi com o especialista em biomecânica Fabrizio Fagioli. Ele é uma grande referência na área e de uma maneira descomplicada e objetiva nos passou uma série de informações e dicas práticas para resolver pequenos problemas ou simplesmente para melhorar nossa relação com a bike.
No único dia em que não pedalamos, fizemos uma visita a uma fábrica de bicicletas, a FRW Bicyles. Eles apoiaram o evento e nos forneceram as bicicletas para alugar. Isso ajudou muito pois muita gente não precisou levar a bicicleta no avião. Lá na fábrica recebemos um almoço com vinho e tudo que tem direito, e depois fomos às compras na loja que há dentro da fábrica, cheia de curiosidades e itens que são muito difíceis por aqui, a preços muito bons.
Toda a organização do evento foi uma parceria estreita do Clube de Cicloturismo com a agência Italy Bike Tour, que promove o turismo de bicicleta na Itália . Com o sucesso do evento de 2013 e a vontade de proporcionar esta experiência a mais gente, este ano a parceria aumentou e iremos promover dois eventos na Itália, ambos em setembro. O primeiro, de 5 a 13 de setembro, será a segunda edição deste encontro que agora acontecerá numa região bem próxima, chamada Marche, mas com novos caminhos e novos atrativos. O segundo será na sequencia, uma viagem de 7 dias, o Velotour Internacional que acontecerá na região da Puglia, o “salto da bota” no sul da Itália. O Velotour que muitos já participaram aqui no Brasil é um evento do Clube de Cicloturismo que permite aos cicloturistas fazerem uma viagem autônoma, carregando sua bagagem, mas com a segurança de estar em grupo e com uma organização.
Parceria o Clube de Cicloturismo conheceu o trabalho do Hotel Dory através do convite da agência de desenvolvimento turístico italiana Italy Bike Tour, representante do hotel no Brasil. A afinidade foi imediata e a parceria entre as três entidades logo se formou para viabilizar este evento. Entraram como apoiadores do encontro a FRW bicyles a Província de Rimini, Comune de Riccioni, Região da Emilia Romana e a Federação Italiana dos Amigos da Bicicleta (FIAB). Ficamos muito felizes pois no Brasil o evento foi apoiado por dois circuitos de Santa Catarina, o Vale Europeu e o Costa Verde & Mar.
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Encontro Internacional de Cicloturismo Brasil - Italia 07 a 14 de setembro - Riccione - Italia |
