PEDALADA DEL FUEGO
De bicicleta na Terra do fogo
Existiam quatro grupos de nativos indígenas na região da Terra do Fogo e me sentia naquela noite como um Selk´nam, grupo que vivia próximo ao Estreito de Magalhães, aonde me encontrava naquele momento. Um dos momentos em que a natureza nos mostra sua força e nos faz sentir minúsculos, neste enorme e maravilhoso planeta Terra.
Estreito de Magalhães - Aproximadamente às 21:30h já acomodado dentro de minha barraca, o vento resolveu mudar de direção e de intensidade, ele vinha do sul, forte e sem dó. Fiquei meia hora segurando as paredes da barraca, estirado torcendo para que o vento mudasse de direção ou que se acalmasse.
Doce ilusão, com a única armação da barraca quase entortando, resolvi sair do meu pequeno e chacoalhado mundinho para tentar mudar de posição a barraca. O resultado foi que não consegui mais armar o meu mundinho devido a força da natureza, dormindo na estepe patagônica ao relento, enrolado na barraca ao lado de minha companheira bicicleta, até o dia seguinte, quando acordei com uma pequena camada de cristais de gelo sobre mim.
Estas e outras situações foram vividas por mim na Pedalada del Fuego, uma travessia solitária, com a proximidade do inverno austral, de Comodoro Rivadavia até Ushuaia, o fim do mundo ou o início, como queiram. A intenção de pedalar entre o mês de maio e junho, fora de evitar os fortes ventos, mas não contava com a presença de tanta neve e gelo já no início da Terra do Fogo (atravessando o Estreito de Magalhães), mas devido a um bom planejamento, essencial a uma viagem cicloturística, havia me preparado para enfrentar as mais diversas situações.
Pedalar com temperaturas baixas, entre 4 e -6°C, foi uma experiência inesquecível, apesar de ter tido durante alguns momentos da cicloviagem, as pontas de meus dedos da mão e pés adormecidos, devido ao frio e assim a má circulação. O rendimento da pedalada foi bom na estepe patagônica, de Comodoro Rivadavia até Rio Gallegos, fazendo entre 80 a 120 quilometros por dia, a paisagem que não muda muito, chega a ser algumas vezes enjoativa, mas era quebrada com encontros com guanacos e zorros, uma espécie de raposa.
A partir de Rio Gallegos o rendimento caiu bastante e na Terra do Fogo, devido a uma tempestade de neve, fiz 23 desanimadores quilômetros em um dia, mas o que compensava os maus rendimentos, eram os bosques e as altas montanhas de picos nevados. Adorei pedalar sobre a neve, já sob gelo, existia o perigo dos inúmeros tombos e atenção era redobrada.
Uma das situações que mais me enriqueceram foram as convivências com os hospitaleiros moradores e criadores de ovelhas das estâncias. Dormindo em algumas casas, bebendo muito mate e conversando bastante em volta de aconchegantes fogões a lenha, aprendi muito sobre o dia a dia na Patagônia.
Agradeço a Houston Bike, Easy Rider Viagens, Starshine, By Roupas Esportivas e Agfa Filmes, por tornarem meu sonho real, pedalando comigo 1466 quilometros até Ushuaia e alcançando a Baía de Lapataia, o final da Ruta Nacional 3, por onde pedalei aproximadamente um mês.
Aqueles que se interessarem pela Pedalada del Fuego, tem maiores informações no site www.zander.com.br, onde foi preenchido um diário durante a cicloviagem.