DO PACÍFICO AO ATLÂNTICO SOBRE 2 RODAS
Sentir o vento no rosto, o sol esquentando a nossa pele. Parar a qualquer momento para contemplar cada detalhe da natureza. Ao fim do dia quando a luz já está quase incipiente, escolher o lugar mais bonito, montar a barraquinha e descansar da jornada. No dia seguinte o ciclo se repete, é claro, com uma boa dose de esforço e suor, mas recompensado por um visual único e indescritível, principalmente porque nosso cenário é uma das regiões mais belas do Mundo, a Patagônia.
O que "embala" o contexto desta história, é que nós três somos "marinheiros de primeira viagem", nunca havíamos feito uma viagem tão longa de bike e que envolvesse uma logística mais complexa. Clayton Conservani (36) é repórter da Rede Globo especialista em cobrir esportes radicais e expedições. Nos acompanhou os 8 primeiros dias. Silvio Oliveira (25, à esquerda) é advogado, trabalha de terno e gravata no Fórum do Rio de Janeiro. Como atividades físicas rema no Botafogo e corre para manter a forma. Queria provar que qualquer pessoa normal pode fazer uma grande aventura, " basta querer,ter atitude" - diz ele. Eu, Guilherme Rocha (29, à direita)
Pesquisamos, conversamos com pessoas experientes e conseguimos fazer uma viagem praticamente sem erros de planejamento. A essência foi levar equipamentos muito leves e estritamente necessários, que pudessem suprir todas as nossas necessidades. É claro que começamos por uma boa bicicleta. Já conhecia alguns trechos da Patagônia e escolhi o nosso percurso a dedo. Saímos da pinguineira Puñihuil, na Ilha Chiloé.
Nos primeiros quilômetros a dificuldade foi adaptar-se aos alforjes (mochila própria para a bicicleta) que muda totalmente o centro de gravidade e alterando o equilíbrio. Minha bicicleta e a bagagem somavam mais de 50kg, mas todo o esforço foi bem compensado pelo visual paradisíaco das praias do Pacífico. Para buscar uma melhor sintonia com a natureza, preferimos as estradas vicinais,de terra. Passamos por Ancud, ainda na Ilha Chiloé e no continente por Puerto Montt até chegarmos a região dos 7 LAgos Patagônicos, um verdadeiro colírio para os olhos. No lado chileno comemos maçãs do pé e acampamos as margens do lago Llanquihue e do Lago Rupanco, show!!!
Para entrar no continente argentino, era necessário vencer a barreira natural que separa os dois países, a Cordilheira dos Andes. Foram quase 35km de subida até que depois de uma deliciosa descida chegamos em Vila Angostura, no Parque Nacional de Nahuel Huapi. Resolvemos alterar um pouco o cronograma e seguir um pequeno trecho de balsa no lago Nahuel Huapi até chegar na Ilha Vitória. Como valeu a pena, foi um dos lugares mais bonitos que já vi!!!
Em Bariloche deixamos a região dos lagos e também nos despedimos do Clayton. Até aqui estávamos a 8 dias pedalando. Daí em diante, entramos rumo ao desconhecido, um deserto Patagônico sendo necessário quase 700km para cortá-lo, é a Rota 23. Um terreno arenoso, muito vento, com escassez de água, quase desabitado, sendo que chegamos a passar um dia inteiro sem ver um ser humano. Mas com uma beleza singular, além de ser a ligação para a conclusão do nosso objetivo, o Oceano Atlântico. A chegada foi no Bauneário de Las Grutas, onde fizemos o ritual da "misturação". Num potinho de filme fotográfico, adereçados com olhinhos, boca, boné, cabelo e tudo, carregamos a água do Pacífico. Foi o nosso amuleto (seu nome é Jacobino) durante toda a viagem. Silvio jogou a água do Pacífico e completou o "Jacobino" com a água do Atlântico, simbolizando nossa vitória.
Antes de concluirmos nossa viagem em Bahia Blanca, ainda fomos para a Península Valdez, tomabada pelo Patrimônio de Humanidade por sua rica fauna marinha e terrestre. Vimos Baleias, Zorros (espécie de coiote), Lhamas, Emas, Lobos Marinhos... Bem, estou me empolgando!!! Fica uma certeza: não há melhor meio de transporte de conhecer o Mundo, o Cicloturismo é indescritível. Acho que ele me contagiou demais, pois agora vou para a Bolívia realizar outra viagem envolvendo a bicicleta,mas isto é uma outra história...
Para saber mais: www.guilhermerocha.com.br
Guilherme Rocha - Engenheiro Civil, desempenha a tarefa de correspondente dos programas Fantástico e Esporte Espetacular (ambos da Rede Globo), como vídeo-repórter. Trabalha nas missões quase impossíveis onde nenhum repórter ou cinegrafista consegue atuar. Guilherme, tem como seu principal projeto escalar a maior montanha de cada continente (Projeto: Os Sete Picos do Mundo), mas ele pode estar presente numa grande prova de corrida de aventura, atravessando algum continente de bike, ou remando em qualquer lugar do Mundo, sempre com sua inseparável câmera de vídeo e fotográfica.