Descida pela estrada mais perigosa do mundo: La Paz Coroico (Bolívia)
Durante o carnaval de 2008 eu e Quel resolvemos curtir um dos roteiros mais emocionantes e perigosos de cicloturismo, realizados por operadoras de turismo de aventuras em La Paz Bolívia. A descida de bike pelo chamado Caminho de Yungas é o mais famoso Down Hill da região e sem sombra de dúvidas, uma experiência única e imperdível para quem curte cicloturismo e aventuras.
Às 7 horas da manhã já estávamos na sede da agência de turismo para el desayuno, servido para os 9 participantes do grupo, composto por israelenses, chilenos e nós, brasileiros, além dos dois guias e do motorista, bolivianos.
De barriga cheia, saímos todos apreensivos no caótico trânsito da capital boliviana, levando as bikes no teto da van. Seguimos com destino a La Cumbre, onde começa a descida propriamente dita. Localizado na região do altiplano, a uma altitude de 4.700 metros em relação ao nível do mar, La Cumbre estava num dia especial, pois nevava muito e a paisagem rodeada de montanhas, parecia feita de chantilly.
Depois de distribuídas vestimentas apropriadas para o frio, coletes de segurança, capacetes, luvas e as bikes - todas de ótima qualidade, com pneus e suspensão apropriados para Down Hill, houve uma explicação prévia do guia sobre os equipamentos e o percurso, além de alguns cuidados especiais com o tráfico de veículos e a estrada lisa pela neve, principalmente nos primeiros 27 Km asfaltados do caminho.
Com todos prontos, começamos a descida num dos mais belos e raros cenários que eu já pedalei na vida. Montanhas e vales, penhascos gigantescos e o barulho do vento gelado nos meus ouvidos, confundiam-se com a emoção da velocidade a que chegavam as bicicletas.
Foram quase duas horas de curtição com 90% de descidas e quase sem pedalar, chegando até uma altitude de 2.800 metros, onde começa realmente a aventura: La carretera de la muerte, listada em 1995 pelo BID (Banco Inter-americano de Desenvolvimento) como a estrada mais perigosa do mundo, onde ocorriam centenas de mortes por ano em acidentes, até ser fechada para os veículos e transformada em estrada-parque, exclusiva para cicloturismo.
A partir daí, fizemos um pequeno lanche e descemos mais três horas por esta estrada de terra e cascalho que serpenteia as montanhas andinas até a região dos vales de Yungas, mais quente e úmida do que o altiplano e repleta de cachoeiras formadas pelo derretimento da neve.
Na rota, fizemos muitas paradas para descansar, bater fotos e beber água, juntando novamente o grupo que vai se dispersando naturalmente durante a descida. No final do passeio, já numa região com bastante vegetação e bem parecida com a nossa Serra do Mar, pegamos um atalho por um single trek muito divertido que botou a prova às habilidades dos bikers nos obstáculos mais difíceis.
Depois de cerca de 5 horas de descidas, 68Km de distância e um desnível vertical de 3.650 metros, finalmente chegamos no local onde a van nos aguardava para levar ao hotel, onde pudemos descansar na piscina e saborear um merecido almuerzo. Ao final do dia, já de banho tomado, retornamos exaustos e felizes, cordilheira acima pela estrada nova, dormindo e sonhando com a próxima aventura. Para quem quiser se aventurar: www.freebikesbolivia.com
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Victor Barreto - é pesquisador, cicloativista em São Paulo onde vive, usando a bicicleta como meio de transporte em viagens e no seu dia-a-dia na cidade. No cicloturismo, viajou pelo Brasil, América do Sul e Europa. |
