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Cicloturismo na Chapada dos Veadeiros

  1. Primeiro dia
  2. Segundo dia
  3. Terceiro dia
  4. Vale da Lua
  5. Dicas!
  • Entardecer próximo à Chapada
  • Vista do vale
  • Cachoeira de Santa Bárbara
  • Águas incrivelmente verdes
  • Cachoeira Almécegas

Fotos: Rodrigo Telles

Na primeira parte da viagem fizemos um trajeto pela região do Parque Terra Ronca e a travessia até as proximidades da Chapada dos Veadeiros.

Nesta segunda etapa, que começa na cidade de Teresina de Goiás, fizemos um trajeto pouco conhecido pela maioria dos turistas: o contorno por trás do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Este parque é muito grande, e por incrível que pareça, praticamente todo o turismo fica concentrado em apenas uma pequena região do mesmo.

Por este caminho alternativo que fizemos, tivemos a oportunidade de conhecer a Chapada por outros ângulos, apreciar outras vistas, conhecer o cerrado em alguns pontos quase selvagem, e ter contato com as comunidades locais que, talvez pelo isolamento, conservam de maneira muito forte a cultura dos antepassados.

Roteiro - No Brasil, há uma grande mistura entre brancos, negros e diversas outras raças, mas a cidade de Cavalcante, por razões históricas, possui uma grande porcentagem de negros, ainda com muita pouca miscigenação. A cidade, que fica a 25km de Teresina de Goiás e já as margens do parque, teve origem nas comunidades quilombolas que viveram por décadas isoladas mesmo depois da abolição da escravatura. Hoje em dia muitos dos jovens que nascem nas comunidades migram para a cidade, mas mesmo assim, algumas delas ainda resistem, conservando seus costumes seculares.

Reservamos um dia para irmos conhecer uma das comunidades quilombolas dos Kalunga. Escolhemos a comunidade Engenho II por estar a menos de 30km da cidade e por já estar organizada para receber turistas.

Deixamos nossos alforjes na cidade para podermos pedalar mais leves. Depois de uma longa e deslumbrante subida de serra, chegamos à comunidade e percebemos que esta, talvez pela proximidade com a cidade já não era tão autêntica como as outras.

A arquitetura já tinha sido modificada pelos telhados de amianto e os chefes comunitários já estavam muito acostumados com o “esquema turístico”. Mas não perdemos a viagem. A poucos quilômetros dali fica a cachoeira Sta. Bárbara, com uma água cristalina, de uma linda tonalidade esverdeada.

2 Segundo dia
 

  • Descida da serra, atrás
  • Face pouco conhecida
  • Bicicletas preparadas
  • Palmeira Buriti

No dia seguinte, equipamos novamente as bicicletas com os alforjes e toda a bagagem e partimos para a estrada de terra que contorna o parque por trás. Também refizemos nosso estoque de comida e água, pois a partir daqui ficaríamos 100km, que decidimos fazer em dois dias, sem passar por nenhuma cidade.

A estrada até que estava boa, esta é a vantagem de se viajar numa época em que não chove muito (maio/junho). Pedalamos o dia inteiro no sol forte e não passamos por tantos rios como nos dias anteriores.

Sabíamos pelo mapa que havia uma comunidade mais ou menos no meio desse percurso, mas não sei se pelo nosso cansaço acumulado, pelo sol, ou se porque paramos muitas vezes para apreciar a paisagem, não conseguimos chegar até lá antes de escurecer.

Mas isso não foi problema de forma nenhuma, pois escolhemos um belo lugar no meio do cerrado e montamos nossa barraquinha. Acabamos tendo muita sorte, pois além de um céu qualhado de estrelas, ainda tivemos uma oportunidade rara, de ver o espetáculo de larvas luminescentes bicolores.

Estrelas - Cada uma delas tinha duas pequenas luzes, uma verde e outra vermelha. No começo, sem saber direito o que era aquilo, ficamos um bom tempo abismados com aquelas centenas de pontinhos luminosos se movendo no chão.

As lanternas ficaram o tempo todo desligadas, não podíamos perder nenhum segundo desse show. Olhávamos para cima, as estrelas, olhávamos para baixo, às larvas luminescentes!!!

3 Terceiro dia
 

  • Vista do vale
  • Queda com 120 metros dentro do parque
  • Trilhas são bem demarcadas
  • Cânion Raizama

No dia seguinte, passamos por duas outras comunidades, essas sim conservavam a aparência e a arquitetura antigas dos quilombos.

As paredes das casas são construídas com um tipo de tijolo grande e cru, sem qualquer revestimento.

Os telhados são de palha de buriti, a palmeira mais abundante na região.

Fomos muito bem recebidos lá. Enchemos nossos cantis, descansamos e seguimos até a cidade de Colinas do Sul.

O trecho do próximo dia continuava por terra, mas por uma estrada já mais movimentada.

Nela seguimos até São Jorge, uma vila turística, que é ponto de partida para diversos atrativos dentro e fora do parque.

Ao chegarmos lá, percebemos que tínhamos acabado de cair subitamente no mundo da civilização, aquele ao qual estamos tão acostumados e do qual procuramos fugir sempre que podemos. Mas os passeios realmente valem á pena, reservamos três dias para tentar aproveitar o máximo.

Cachoeiras - Dentro do parque conhecemos as cachoeiras, uma com 80 e a outra 120m de queda, realmente espetaculares. Apesar das trilhas serem simples e perfeitamente auto-guiáveis, o parque exige a contratação de um guia.

Também fomos ao Cânion, bem menor, mas muito aconchegante para um banho e quem sabe até uma nadada contra a correnteza dentro do cânion?

Fora do parque os atrativos são em terreno particular e cobram entrada, o preço é razoável e vale o passeio.

Visitamos a cachoeira Raizama, que também fica dentro de um grande cânion e tem acesso por trilhas úmidas cheias de pequenas pontes e escadinhas de madeira.

4 Vale da Lua
 

  • Construções típicas
  • Vale da Lua, rocha esculpida
  • Um dos cânions do parque
  • Cachoeira das Carioquinhas

O outro passeio imperdível é o Vale da Lua. O rio esculpiu formações impressionantes na rocha por onde passa. Não é exagero, o cenário é realmente lunar.

São rochas em forma retorcida, banheiras redondas, pontas agudas e turbilhões de água. Claro que no fim, um banho na piscina natural de água gelada nos lembra que estamos sim no nosso planeta querido.

No caminho para nossa próxima e última cidade, Alto Paraíso, ainda passamos pela Cachoeira Almécegas que escorre por infinitos caminhos na rocha, formando uma teia branca de água.

E o Jardim de Maytrea, que lembra um cenário de contos de fadas.

Alto Paraíso, ou High Paradise como eles gostam de chamar, hoje é cidade grande, mas na década de 70 foi refúgio de muitas comunidades alternativas. Foi de lá que partimos para a caminhada chamada Sertão Zen.

Depois de alguns quilômetros, deixamos as bicicletas e seguimos o caminho que sobe durante bastante tempo pelas encostas dos morros até atingir o alto da chapada.

Caminhamos por horas lá em cima, sempre no plano, até que do outro lado, pudemos avistar todo o vale e as outras serras da região.

5 Dicas!

  • Cobras!
  • Antes de virar parque
  • Estradas de terra
  • Morro da Baleia
  • Jardim de Maytrea
  • Toda essa região tem muitas cobras, por isso é indispensável o uso de botas de couro para caminhada em trilhas, de preferência com solado bem aderente.
  • O sol é extremamente forte. A grande incidência de cristais brancos no solo reflete a luz ofuscando a vista e queimando a pele. Por isso é importante o uso constante de óculos escuros anti-UV e protetor solar.
  • Na época de seca, principalmente de maio a julho, é bom tomar cuidado com carrapatos e micuins, usando sempre calças compridas, pois os repelentes não fazem efeito contra eles.
  • Mesmo que você não for fazer todo o percurso de bicicleta, vale a pena levá-la para fazer passeios, se locomover até os atrativos e explorar a região.
  • O vilarejo de São Jorge é o mais bem localizado para quem quer conhecer o parque nacional. Quem vai para São Jorge de ônibus, deve ir para Brasília e de lá tomar o ônibus direto. Verifique os horários em que o ônibus possui bagageiro grande para colocar as bicicletas.
  • Para contratar um guia para entrar no parque, procure se juntar a um grupo pois a diária fica mais barata. Os guias ficam uniformizados e circulam pelas ruas na parte da manhã.
  • Se você está acostumado a caminhar, e quiser aproveitar melhor o dia saindo cedo, é melhor combinar o horário com o guia no dia anterior.
  • Procure ir fora da época de verão, pois com as chuvas os rios transbordam facilmente e os passeios ficam interditados. Além disso, se puder evite as temporadas e feriados, por causa do grande fluxo de turistas, devido à proximidade com Brasília.

    * Rodrigo Telles: Engenheiro elétrico e guia de turismo ecológico. É fotógrafo de natureza e montanhista desde 1996. Entre as viagens de bicicleta destacam-se: Expedição Titicaca (Bolívia e Peru), Pantanal, Sertão Nordestino, Serra da Canastra (MG), Chapada dos Veadeiros (GO). Fabricante dos alforjes Arara Una.