Bem, a coisa começou a esfriar! Deqin, a ultima cidade antes da fronteira com o Tibete fica a 3.500 m de altitude e a estrada de Lijiang ate aqui sobe e desce um bocado.
Deixei Lijiang, uma cidade turística com arquitetura antiga e as tradicionais lanternas vermelhas, e resolvi seguir o vale do Yangtzi, passei pela "Primeira Curva" - lugar onde o rio vira quase 180 graus e segue rumo NE, o que segundo a mitologia chinesa foi obra dos deuses que puseram uma montanha no caminho original deste sagrado rio fazendo com que ele seguisse pro centro da China - e segui rumo norte, correnteza acima.
Conforme se sobe, o vale vai estreitando, a estrada vai piorando e o tempo, esfriando.
Em dois dias estava cruzando o rio e iniciando a primeira grande subida, uns 30km bem íngremes. Ali já estava em área de tibetanos - embora ainda não oficialmente no Tibet - e começa-se a ver as bandeirolas com inscrições budistas e as "Stupas".
No topo, um visual fantástico do vale com os estreitos campos de arroz formando "degraus" verdes com as altas montanhas ao fundo.
No final da tarde, não conseguia encontrar um lugar pra acampar e acabei sendo convidado pra pernoitar em uma casa de uma família tibetana, num pequeno vilarejo. Família de camponeses, muito simples mas de uma hospitalidade incrível.
A culinária tibetana esta "meio" longe da culinária francesa, mas não pude reclamar do jantar "de gala": sopa de macarrão com carne seca, pão - redondo e chato, com o chapatti indiano, mas mais espesso -, tsampa - farinha de centeio - e o tradicional "bo cha", o chá tibetano feito com erva, manteiga, sal e um pouco de tsampa, socado numa espécie de pilão e servido bem quente (como deveria ser!). Tudo isso ao redor do fogão a lenha, pra espantar o frio.
Segui viagem e baixei novamente a vale do Yangtzi (2.500 m) e iniciei a subida mais dura ate agora: 50 km de estrada de terra até o topo de um passo a 4.300m, com um visual fantástico das montanhas e a primeira vista do platô tibetano.
Mais uma vez, pernoitei numa casa de tibetanos com muito frio, muita hospitalidade e muito chá ao redor da fogueira.
De lá foi uma descida tranqüila ate Deqin, próximo ao vale do Mekong, onde estou só "coçando" e me recuperando dos 7 dias de subida, descida e frio. Daqui pra frente, estarei na estrada proibida pra Lhasa, provavelmente junto com o Juan (que viajei junto ha dois anos) e o David, dois espanhóis de Madrid. Se vamos conseguir escapar da policia chinesa, "só Buda sabe"... Que tiver que acontecer, que aconteça!
Espero não ter que dar um tostão para o governo chinês que faz uma ocupação à forca bruta, totalmente ilegítima, do Tibete desde 1959! E sob o silêncio complacente e hipócrita do ocidente... (não, não quero falar de política)!
Grande abraço pra todos e muita paz!
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