por Rodrigo Telles -
Uma das perguntas que mais costumamos ouvir quando estamos viajando de bicicleta é sobre a dificuldade de se pedalar numa bicicleta carregada.
A resposta simples e direta é: não é nada difícil andar numa bicicleta carregada.
Mas existem algumas diferenças em relação a uma bicicleta vazia. Em primeiro lugar o equilíbrio.
1) Centro de Gravidade
Quando a bagagem é corretamente colocada em alforjes, o centro de gravidade muda de lugar ficando numa posição bem mais baixa do que estamos acostumados. Isto traz uma vantagem, faz com que a bicicleta fique mais estável do que quando vazia. Pelas leis da Física, quanto mais baixo o centro de gravidade, mais estável é um objeto.
2) Aumento da Inércia
Um outro efeito dessa massa extra é que as manobras ficam bem mais lentas e exigem um movimento de corpo um pouco maior do ciclista. Mas isto são coisas totalmente intuitivas, que qualquer pessoa que sabe andar de bicicleta pode se acostumar em poucas horas.
Um outro assunto que deve ser tratado quando se troca uma bicicleta leve por uma bicicleta carregada, é a questão da velocidade. Aqui há uma mudança total nos conceitos de se pedalar. Um aumento de 35 ou 40kg de bagagem, por exemplo, num caso geral pode significar um conjunto ciclista-bicicleta 50% mais pesado.
Uma comparação que pode ser feita é a seguinte. Uma pessoa numa bicicleta vazia assemelha-se a um carro esporte, enquanto um cicloturista carregado assemelha-se a um caminhão com carga. Na bicicleta vazia, o ciclista pode acelerar e frear sempre que quiser, pois tem muita agilidade.
Porém, numa bicicleta com muita carga, a aceleração deve ser lenta, pela própria inércia do conjunto. Tentar manter a mesma aceleração de uma bicicleta vazia (pedalando em pé, por exemplo), pode significar desgaste excessivo e eventualmente quebra das as peças envolvidas na tração (corrente, pinhão, coroa, etc.).
A mesma coisa vale para a frenagem. Assim como um caminhão carregado, a bicicleta com carga demora mais tempo para perder velocidade. Os freios e os pneus são mais exigidos. No caso de freio a disco, os raios também são muito exigidos, pois são eles quem transmitem a força do freio até o pneu. Assim para evitar quebra de peças durante uma viagem a regra é pedalar com calma, sentindo o ritmo da bicicleta.
Mas além da questão da manutenção, ainda é importante lembrar da questão da segurança.
3) Em velocidade o risco de quebra é muito maior.
Quando a pista é muito irregular, como asfaltos esburacados ou estradas de terra, por exemplo, a velocidade amplifica muito os impactos dos buracos e das lombadas. Mantendo um regime de impactos constantes durante muito tempo pode-se causar cansaço de material no quadro e nas peças metálicas.
É difícil ouvir falar de quebra de quadro durante viagens de cicloturismo, mas quando acontecem, muitas vezes o cicloturista estava `abusando` da bicicleta. O pior que pode haver neste sentido, são as `costeletas` que são pequenas ondulações contínuas, por vezes ao longo de diversos quilômetros de estadas de terra. Uma hora pedalando em costeletas pode significar mais impactos do que um dia inteiro de pedal numa estrada normal. Portanto, a dica é: devagar nas pistas ruins e principalmente nas costeletas.
Lembre-se que os quadros não são projetados para toda essa carga extra e os reforços existentes não levam em consideração a distribuição de peso que os alforjes apresentam. Mas usando com calma, um quadro pode durar a vida inteira.
4) Em caso de quebra, em velocidade, o risco de acidente é muito maior.
A perda de um freio, a quebra de um quadro, o estouro de um pneu, por exemplo, podem ser muito traumáticos caso o ciclista esteja em velocidade. São coisas difíceis de acontecer, mas que quando acontecem geralmente são graves. Em baixa velocidade, porém, estes tipos de problema não oferecem quase nenhum risco de acidente, ou pelo menos de acidente grave. Então, outra dica seria: nunca se esqueça que problemas podem acontecer a QUALQUER momento.