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Potencial do Cicloturismo para o Mercado de Bicicletas

| Por: Fábio Almeida - Clube de Cicloturismo do Brasil |

Bicicleta de qualidade. Bagageiro, alforje e bolsa de guidão. Kit de ferramentas, kit remendo de pneu e bomba de ar. Farol, lanterna e ciclocomputador. Caramanhola térmica, capa de chuva e mudas de roupa. Não são poucas as despesas para quem quer iniciar no cicloturismo. Sem dificuldade, os gastos iniciais com equipamentos e acessórios superam o valor de compra da bicicleta.

No entanto, como abordamos no artigo anterior, esta demanda não é atendida adequadamente pelo mercado brasileiro. Um dos motivos da pouca atenção que o cicloturista recebe por aqui pode ser a dificuldade de se enxergar seu potencial como consumidor. Neste caso, é recomendado que observemos dados de países com maior tradição no ciclismo, como a Alemanha e os Estados Unidos.

No país europeu, estimativa do Clube de Ciclistas da Alemanha (ADFC, na sigla em alemão) mostra que os cicloturistas locais movimentam 5 bilhões de euros anualmente. Nos EUA, os gastos anuais com equipamentos e viagens de bicicleta (US$ 81 bilhões) superam as despesas com passagens aéreas (US$ 51 bilhões).

Pode-se argumentar, com razão, que estes países têm uma cultura ciclística mais tradicional que a brasileira. No entanto, é justo observar que o cicloturismo é considerado um destino natural na evolução dos ciclistas. Após dominarem suas bicicletas, eles partem para reconhecer suas cidades, e neste momento já começam a utilizar equipamentos de cicloturismo, como bagageiros, paralamas e pequenos alforjes. Em um segundo momento, partem em busca de novos horizontes e descobertas. Neste sentido, a atual política de incentivo ao uso das bicicletas nas grandes cidades faz prever um expressivo aumento no mercado de equipamentos para viagens de bicicleta em um futuro próximo.

Além deste crescimento advindo dos novos ciclistas urbanos, a maior oferta de equipamentos para cicloturismo irá também incentivar a prática entre os atuais ciclistas. Praticantes de mountain bike podem, por exemplo, comprar equipamentos de bikepacking para passar o fim de semana em alguma região rural. Integrantes de grupos de pedal noturno podem se equipar com alforjes para visitar atrações em cidades próximas.

Mais experiente, o novo cicloturista brasileiro irá encontrar interessantes e consolidados circuitos para a prática em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e outros estados. São roteiros com duração média de uma semana, que levam a uma exigência por equipamentos mais resistentes e caros.

Estes se juntarão ao atual praticante de cicloturismo no Brasil. São milhares de ciclistas que já percorrem os circuitos oficiais e partem em viagens por roteiros próprios. Experientes, eles também realizam fortes investimentos, mas em equipamentos como aparelho de GPS, cubo dínamo, quadros de cromoly, entre outros. Atualmente, quase tudo que compram vem do exterior, seja através de sites de venda direta ou pequenos importadores, o que mostra outra possibilidade de crescimento para o mercado brasileiro.

E toda esta transformação no perfil do ciclista brasileiro deve ser acompanhada pelo mercado. Tradicionalmente dividido entre o atendimento do atleta amador e do consumidor que usa a bicicleta no dia-a-dia, os fabricantes, distribuidores e lojistas só tem a ganhar ao adquirir conhecimento e passar a atender a este crescente segmento. Trata-se de um passo importante para a consolidação de nosso mercado, e seus atores podem, como sempre, contar com o conhecimento do Clube de Cicloturismo do Brasil.

Publicado originalmente em parceria do Clube com a Aliança Bike em 19/09/2016:
http://aliancabike.org.br/noticia.php?id_news=137