ECOSSISTEMAS BRASILEIROS
Pedalando o contorno do Brasil
Luiz Arnaldo contornou o Brasil de bicicleta, percorrendo todo o litoral brasileiro num projeto intitulado Ecossistemas Brasileiros. Os textos que seguem foram editados por Eliana Garcia a partir do diário de bordo (enviado semanalmente) e publicado aqui em maio de 2007.
UBATUBA (SP) - VITÓRIA (ES)
Arraial do Cabo (RJ) e é um dos lugares mais bonitos que já conheci (e olha que eu conheço muitas praias!). Aqui acontece o fenômeno da Ressurgência, quando as águas de duas correntes marítimas e temperaturas opostas se encontram e não se misturam. A vida é abundante e num só dia vi três tartarugas!!!!!! Até aqui, pedalei 517km e ainda nenhum pela praia.
O ritmo da viagem foi melhorando com o passar dos dias, com o meu corpo recuperando os calos de minha primeira viagem. Mas passei por um apuro na passagem pelo Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, no Rio de Janeiro. Entrou o tão esperado Vento Sul, aquele que empurra forte para o Norte. Eu não me lembrava, mas o dia em que ele chega é imprestável para o pedal, pois sempre vem junto uma grande tempestade, que se forma rapidamente.
Saí pedalando e olhando por cima do ombro para que tivesse tempo de me abrigar, pois desde cedo eu via a massa cinzenta de nuvens vindo de Sul. Em Carapebus, busquei abrigo e fiquei em um restaurante que estava fechado enquanto "caia o céu". Choveu até granizo!
Pensei que havia passado o pior e sai pedalando, pela praia, curtindo velocidades espetaculares. Porém, outra frente de chuvas me alcançou e pensei que desta vez eu iria desta para a melhor, pois não paravam de cair raios em todas as direções.
Mergulhadores e pássaros no costão da Praia da Prainha Arraial do cabo (RJ) |
Lembrei-me das recomendações passadas pelos especialistas, sobre como devemos nos comportar quando estivermos em terrenos descampados e debaixo de uma tempestade elétrica. Devemos agachar e manter os pés juntos, para que a corrente elétrica não passe pelo corpo.
Estava nessa posição e segurando a Bike de pé para que não encharcassem os alforjes, quando vi um clarão e tomei um bruta choque da bicicleta. Soltei a Bike e caí para trás.
Nós aventureiros não temos o luxo de desmaiar ou mesmo lamentar um momento de má sorte, por isso levantei, mesmo que com a musculatura meio boba e parti. A sorte nunca me abandona, pois a menos de 500m havia uma barraca de pesca de piaçava muito bem feita, onde poderia me abrigar. Tentei montar a barraca de camping ali dentro, mas efetivamente toda a forca que me restava eu gastei levando a Bike pela areia até ali e acabei desistindo. Joguei a lona da barraca na areia, o saco de dormir por cima e desmaiei...
Acordei quatro horas depois, ensopado, porém refeito. A tempestade havia passado e havia uma linda lua no céu. No dia seguinte, encontrei uma estradinha de terra que havia procurado no dia anterior a menos de 50m de onde havia passado a noite. Coisas de aventureiros!!! Esta, sem duvida, foi a pior passagem da viagem.