Em Arraial d´Ajuda completamos os primeiros 600 quilômetros da viagem, comemorados com 4 picolés cada um! Pedalando, nem percebemos a mudança de Estado, pois estávamos atravessando um interminável mar de eucaliptos, contrastando com a beleza das praias e nos fazendo imaginar como seria a Mata Atlântica por lá há uns 20 anos.
A primeira praia baiana que visitamos foi Costa Dourada, onde vimos as primeiras falésias (já descritas na carta de Pero Vaz de Caminha há 499 anos). Pensamos que estaríamos vendo as praias o tempo todo, mas a maioria das estradas que estamos cruzando fogem um pouco para o interior. O único trecho em que vimos Mata Atlântica preservada foi numa pequena serra entre Caraíva e Trancoso (posteriormente descobrimos se tratar de uma Área de Proteção Ambiental). No mais, apenas pastagens (vimos até búfalos!!) e plantações de eucaliptos que formam verdadeiros labirintos (no trecho entre Costa Dourada e Mucuri, nos perdemos e fomos resgatados por S. Manoel, um morador da vila de Cruzelândia, onde tivemos que dormir).
À medida que subimos o litoral baiano, aumenta a beleza das praias e também o grau de dificuldade das estradas, a ponto de várias vezes termos empurrado as bicicletas, em trechos de areia e ladeiras que nos deram saudades das planícies pantaneiras... Este trecho tem muitas barras (desembocadura de rios nas praias), onde geralmente não há pontes, fazendo com que o barco seja a melhor alternativa, evitando longos trechos de pedal em estradas distantes do litoral. Fizemos algumas travessias, às vezes simples como na Barra do Rio Cahy (com direito a golfinhos saltando na nossa frente), outras lindas como no rio Mucuri, nos trechos entre Nova Viçosa e Caravelas, e entre Ponta do Corumbau e Caraíva. 
Nessas ocasiões tivemos a oportunidade de observar as mais diversas paisagens: manguezais, vilas de pescadores, recifes de corais, e - no dia 21 de abril - o Monte Pascoal (primeiro ponto do Brasil avistado pelas caravelas de Pedro Álvares Cabral). Para que uma viagem como a nossa seja muito legal, além de bastante planejamento, é importante ter a sorte de se estar sempre no lugar certo na hora certa. Na estrada entre Mucuri e Nova Viçosa, por exemplo, fomos abordados por uma moradora que passava de carro, se interessou pelo projeto, parou na estrada e nos deu uma força em Nova Viçosa: organizou nossa travessia até Caravelas (3 horas de barco!!) por um precinho bem camarada. Em Alcobaça, estávamos procurando por uma pousada quando encontramos um mineiro muito gente boa, que nos abriu as portas de sua casa como se fôssemos velhos amigos. A mesma coisa aconteceu aqui no Arraial d'Ajuda com uma pessoa que havíamos conhecido há alguns anos em sua visita no Pantanal. 
Em Trancoso encontramos Luis Arnaldo, um engenheiro paulistano que está fazendo o mesmo percurso que a gente, porém sozinho. Sabíamos de sua viagem desde nossa saída de Vitória, e estávamos ávidos por encontrá-lo. Por essas e outras, nunca se desespere. Sempre tem alguém em uma esquina ou bifurcação para lhe indicar o caminho ou lhe dar uma mão. Só três coisas negativas aconteceram nesta primeira etapa da viagem:
- O mau tempo que na última hora impediu nossa visita ao Parque Nacional Marinho de Abrolhos
- Uma pequena intoxicação alimentar em um dos membros da equipe que nos custou dois dias a mais em Cumuruxatiba (nem foi tão ruim, afinal o lugar é lindo...)
- O roubo de uma camiseta do projeto, que estava no varal em frente ao quarto da Pousada em Caraíva (quando chegamos na vila nos disseram que não seria necessário se preocupar com este tipo de coisa, mas...).