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Projeto Pantanal vai à Praia: Ilha do Cajú(MA) a São Luís (MA)

- e as nossas casinhas... Após nossa saída da Ilha do Caju, tivemos uma série de contratempos que causaram atrasos e nos forçaram a adaptar o roteiro. Um motor de barco quebrado, pequenos problemas de saúde e também nos meios de transporte locais dificultaram nossa chegada aos Lençóis Maranhenses. Mas graças à prestatividade do pessoal da Ilha, tudo acabou dando certo mais uma vez.

OS LENÇÓIS MARANHENSES
Foi bem difícil conseguir visitar a região do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses: parte devido às características das estradas (só areiões...), mas principalmente pela dificuldade em obter informações e a prática de preços abusivos pelos motoristas que fazem os passeios em veículos 4x4. A falta de orientação para o desenvolvimento turístico criou uma mentalidade de se omitir informações para "segurar" o visitante em determinadas localidades, e nesta região encontramos os passeios mais caros de todo o Nordeste!

Para quem começa a visita a partir do Piauí (como nós), encontra-se primeiro a belíssima região de dunas e lagoas da Área de Proteção Ambiental dos Pequenos Lençóis, que pode ser visitada a partir das localidades de Rio Novo e Caburé. Nosso ponto de partida foi a cidade de Tutóia, de onde pegamos uma Toyota até o Rio Novo. Neste trecho, pudemos observar mudanças significativas na paisagem, com a presença das enormes palmeiras buriti acompanhando o leito dos riachos. Estando na região, não deixe de visitar as dunas e lagoas que separam Rio Novo do mar. A partir deste ponto, voltamos a pedalar pela praia por 18 quilômetros até chegar em Caburé, uma vila sazonal de pescadores às margens do rio Preguiças, já na divisa do Parque Nacional. De lá partem barcos para as vilas de Mandacaru (com um farol aberto à visitação, de onde se tem uma linda vista panorâmica) e dos Atins, a primeira entrada do Parque. Nosso programa mais interessante foi a subida do rio Preguiças até a cidade de Barreirinhas (principal entrada para o Parque) no barco de linha, único meio de transporte para os moradores locais. Numa viagem de 3½ horas é possível observar belas dunas, pequenas comunidades de pescadores, manguezais com árvores de até 20 metros e uma incrível diversidade de aves e palmeiras, sem falar da rara oportunidade de contato com o povo da região.

De lá partimos para uma caminhada até a Lagoa Azul, onde aconteceu o episódio mais inusitado de toda a viagem: a caminhada se revelou muito mais longa do que nos informaram, o sol e a areia fofa estavam nos castigando, e após duas horas sem cruzar ninguém que pudesse nos dar alguma informação, estávamos a ponto de desistir (que frustração...). Foi quando do nada surgiu uma Toyota indo no mesmo sentido que nós (oba, carona!!). Acredite se quiser (pois nem nós acreditávamos): uma das passageiras era, uma amiga curitibana que havíamos conhecido no Pantanal três anos antes, e que não teve como escapar de nos resgatar... Ah, a lagoa era mesmo azul !

O TRECHO FINAL
Pelo nosso roteiro original, a viagem seguiria de Barreirinhas até Bacabeira (30 quilômetros ao sul da Ilha de São Luís) de ônibus, devido às grandes distâncias pelo interior em estradas de areia sem cidades ou pontos de apoio. Tentamos fazer uma via alternativa contornando o Parque Nacional pela praia, para chegar na Ilha de São Luís de barco pelo leste.

Porém, não foi possível devido à falta de tempo, maré desfavorável e ausência de transporte regular: para chegar ao ponto onde se pega o barco seria preciso viajar 6 horas de trator, o único tipo de veículo que vai até lá. Tivemos que seguir o plano original e após 63 quilômetros de pedal chegamos finalmente à "Ilha do Amor", como São Luís é conhecida localmente. Mas não pense que foi fácil... A estrada até que colaborou (apesar de não ter acostamento, o asfalto era liso e sem ladeiras), mas parece que as bicicletas perceberam que era o último trecho, e se amotinaram!! Em menos de 30 quilômetros, um pneu rasgou, duas câmaras de ar furaram, um movimento central estourou e as catracas e correntes não respondiam mais. Parecia piada, mas chegamos lá - aos trancos e barrancos!

SÃO LUÍS
Considerada Patrimônio da Humanidade, foi a cidade onde tivemos mais chance de conhecer os atrativos históricos e culturais. Os prédios centenários do centro antigo dão um charme todo especial ao lugar, bem como sua riqueza cultural que difere totalmente do que havíamos visto até então nos outros Estados do Nordeste. Boi-bumbá, Dança do Cacuriá, Tambores de Mina e de Crioula e arroz de cuxá são algumas das tradições que pudemos vivenciar por lá. Um resumo disto tudo pode ser visto no Museu de Cultura Popular Domingos Vieira Filho. O mesmo ocorre nas vizinhas cidades de Alcântara (uma imperdível viagem no tempo!) e São José de Ribamar. E o Reggae? Pois é, ainda que sofra um certo preconceito por parte da população, rola mesmo por lá! Seja nas "radiolas" (gigantescos paredões de caixas de som usadas nas festas regueiras), bares, casas, ruas e até nos ônibus urbanos! EPÍLOGO Terminadas as pedaladas (agosto de 1999, 135 dias após partirmos de Vitória/ES), era hora de desenvolver nossas atividades em São Luís. Foram duas palestras, quatro exposições, várias entrevistas à imprensa e trabalhos de Educação Ambiental com crianças. Saindo de São Luís do Maranhão foram 46 horas de ônibus até Ribeirão Preto!! Apesar da demora, voltar de ônibus foi interessante, pois pudemos acompanhar as mudanças de paisagem e também da cultura, conforme nos afastamos do mar cruzando os estados de Maranhão, Tocantins, Goiás, Minas Gerais e São Paulo. Além disto, a longa viagem funcionou como um preparativo para nosso retorno ao caos urbano.

À primeira vista, parece que uma viagem desta é só curtição, mas não é bem assim. Foi preciso muita dedicação, organização, paciência e cara-de-pau para sobreviver com 23 reais por dia, e espírito de equipe para passar 145 dias juntos, dormindo em 81 lugares diferentes, fazer 56 exposições, 16 palestras, 9 trabalhos de Educação Ambiental, 55 entrevistas à imprensa, 53 travessias de barco, mais de 3.300 fotos tiradas e (aproximadamente) 742.196.548.213½ pedaladas...

O crescimento pessoal, profissional e espiritual que uma experiência como esta proporciona é imenso, e deveria constar do currículo de muita gente. Somos muito gratos a aos nossos familiares e amigos que deram a maior força e apoio!

Daniel de Granville Manço (Ribeirão Preto, SP) - biólogo formado pela USP/RP, com especialização em morcegos da Mata Atlântica. Guia e sócio-proprietário de agência de ecoturismo. Fotógrafo, supervisor de lazer no Refúgio Ecolólgico Caiman (Pantanal/MS), guia e gerente de ecoturismo em Bonito/MS. www.fotograma.com.br
Antonio Augusto Bertagnolli Jr. (Ribeirão Preto, SP) - Biólogo formado pela UNI-MAUÁ/RP, dive master em mergulho formado pela C.M.A.S./C.B.P.D.S. (brevet 123 no Brasil), guia de ecoturismo, fotógrafo e gerente de ecoturismo em Bonito/MS. www.gutobertagnolli.com
Maria Antonietta Castro Pivatto (São Paulo, SP) - Bióloga formada pela universidade de Guarulhos, pós-graduada em ecologia pela universidade São Judas Tadeu e em turismo ambiental pelo SENAC-CEATEL. Guia de ecoturismo por mais de 5 anos em SP e região, guia no Refúgio Ecolólgico Caiman (Pantanal/MS) e em Bonito/MS.


 

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