No percurso de Fortaleza até Parnaíba (PI), participamos da maior festa da viagem, em Lagoinha (CE). Um fim-de-semana que começou com mais um "forrozão" eletrônico (ai, que saudades dos trios de forró tradicionais...) e terminou com uma regata de jangadas e umas 2 mil pessoas na praia. A partir de Lagoinha, nossa melhor opção foi pedalar sempre à beira-mar, devido à falta de estradas próximas ao litoral. Apesar da constante preocupação com a variação das marés, o desgaste das bikes e travessias de rios, foi um trecho muito interessante. Além do visual, em Aranaú (CE) aprendemos com um pescador da região como se faz peixe seco ao sol (e ainda ganhamos alguns para comer depois!). Teve também nosso acampamento na APA de Nova Tatajuba, uma vila de pescadores reconstruída após a primeira ter sido engolida pelas dunas. Garotos da vila nos deram as boas-vindas na forma de côcos apanhados na hora, que complementaram nosso café da manhã.
O final das pedaladas pela praia foi em Camocim (CE), uma interessante cidade centenária que já foi o principal porto de pesca do Nordeste. É o último lugar no Brasil onde ainda existem barcos a vela que carregam até 6 toneladas de peixe. De volta ao asfalto passamos por Chaval (uma curiosa cidade construída no meio de enormes pedras), para depois entrarmos no Piauí, cujo primeiro atrativo foi a parada numa casa de farinha artesanal onde ganhamos bolo de tapioca ( ! ).
O aspecto negativo ficou por conta da enorme quantidade de lixo encontrada ao longo da estrada à beira mar na região de Luís Correia (PI). Finalmente chegamos em Parnaíba (PI), uma cidade histórica que teve seu auge no período de extração da cera de carnaúba. No meio do caminho havia Jericoacoara. Pela fama e badalação, esperávamos encontrar mais um lugar degradado pelo turismo mal planejado. Porém, nos surpreendemos com o bom gosto e preocupação das pessoas em conciliar turismo e preservação ambiental. Um exemplo: toda a rede elétrica é subterrânea para não descaracterizar muito a antiga vila, que faz parte de uma APA e já conta com coleta seletiva de lixo.
O único "probleminha" que ninguém pôde nos ajudar foi a chegada pela praia, tendo que empurrar as bikes dunas acima até chegar ao farol. Difícil também foi acordar cedo, pois a noite de Jeri tem várias opções para quem quer se divertir... Encontramos novamente o Luís Arnaldo, que apesar de um problema no joelho (resultante da queda de cima de um coqueiro!), segue viagem firme e forte... e sozinho! Cruzamos também com Miguel, outro paulistano, que está pedalando (contra o vento!) de São Luís a Fortaleza durante suas férias. Boa sorte para os dois!!! Nosso primeiro problema mecânico mais sério aconteceu na praia da Baleia (CE), com 3.100 km rodados, quando o movimento central da bike do Daniel não agüentou e "entregou os pontos". No meio daquele nada, a situação parecia crítica, mas graças à ajuda de um monte de gente, conseguimos resolver o problema sem atrasar muito (só umas 12 horas...).
Não poderia haver lugar melhor para comemoração dos 4 meses da viagem. Estávamos na Ilha do Caju, uma das 80 que compõem o Delta do Rio Parnaíba, um imenso santuário ecológico localizado na divisa entre os Estados do Piauí e Maranhão. A ilha tem um pouco de tudo: dunas com lagoas de água doce, belas praias desertas, manguezais, igarapés e áreas alagadas com ninhais de pássaros que nos lembraram bastante o Pantanal.Além da comida deliciosa e passeios variados, deliramos com os cajueiros cheios de frutas e os guarás (aves muuuito vermelhas, parentes dos íbis e curicacas).
As bicicletas ficaram paradas por quase 10 dias, pois o único meio de transporte possível (Parnaíba / Ilha do Caju / Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses) são os barcos, e todo pedaço de terra é composto por dunas e areia bem fofa. Descanso merecido para elas e para nós, já que os últimos trechos do litoral do Ceará foram os mais difíceis de toda a viagem. Descobrimos depois que boa parte do trajeto foi o mesmo usado pelos "jipões" 4x4 que passaram por lá uns 20 dias antes, no "Rally dos Sertões".