Parti pelo asfalto para descansar e pegar ritmo, depois de uma semana parado. Mas só peguei vento contra e após Maracajú, ainda entrei numa estrada errada o que me fez pedalar mais 56km. A estrada era muito bem cascalhada e vi muitos bichos, inclusive uma veada bem simpática acredito que seja fêmea e não filhote pois era grande e não tinha chifres. Durante esses dias, tenho pedalado entre fazendas enormes de gado ou monocultura. Não acho bonito ver a terra exposta ou coberta por um único tipo de planta. Nestes trechos me sinto num deserto, apesar de verde, pois todas as aves desaparecem e só consigo ouvir o barulho do vento nas folhagens. Em Dourados-MS, gravei uma entrevista, agora para s TV Morena, uma afiliada da Rede Globo. Parti debaixo de chuva de Dourados-MS, mas como agora estava cruzando as frentes frias e não acompanhando, como no nordeste, foram só dois dias mais úmidos.
Ficou o vento frio e contra me obrigando a me agasalhar melhor e pedalar bem mais. Tive que seguir pela BR-163, ainda sem acostamento, mas o baixo tráfego me deu uma falsa sensação de segurança. Falsa, pois tomei um sustaço quando uma carreta ia passando muito perto de mim. Pulei da pista e cai num buraco ocasionando a quebra de três raios. Segui assim até Guaíra, no Paraná, onde consegui o apoio de uma bicicletaria e a Nega ficou retinha de novo. Para entrar no Paraná, meu 15°estado, tive que passar pela maior ponte fluvial da América do sul, com 3.600 metros de vão. Nessa ponte sobre o Rio Paraná, é proibida a passagem de bicicletas, o que não me intimidou nem um pouco, afinal a alternativa seria pedalar mais 50km, entrando no Paraguai e atravessando de balsa para Guaíra. Em Guaíra, tive o prazer de conhecer o Frei Pacífico, suas esculturas em madeira e o trabalho de reflorestamento que ele vem fazendo sozinho, em uma das ilhas que sobraram após o alagamento das Sete Quedas.
Depois de mais um dia de ladeiras intermináveis, cheguei a Marechal Cândido Rondom e conheci um rapaz bem safo, que quer fazer muitas viagens de bicicleta. Fiquei dois dias por lá, passando um pouco da experiência que acumulei até agora e dando uma geral no equipamento. O rapaz partiu comigo e pedalou legal até a hora em que teve que voltar. Foram 65 km em que tive um companheiro de viagem. Nesse dia, consegui chegar em São Miguel do Iguaçu e passei a noite acampado sob as estrelas, num balneário as margens do Lago de Itaipu.
Essa região, chamada de Costa Oeste pelos paranaenses, tem vários balneários públicos, muito bem conservados, que juntando com a limpeza das ruas e com o capricho das construções em estilo europeu, me causaram a sensação de estar lá, bem diferente do resto do país. Cheguei em Foz do Iguaçu por uma pista duplicada e logo consegui o apoio para minha estadia. Fui entrevistado pela TV Cataratas em frente à Garganta do Diabo, principal atrativo do Parque Nacional do Iguaçu e, após um excelente almoço, ainda segui para o Marco das Três Fronteiras. Brincando brincando, pedalei 52 km nesse dia livre". Não tentarei atravessar para o Paraguai, pois com a proximidade do Natal, a Ponte da Amizade estava uma Loucura. Até aqui tinham sido 234 dias de viagem; 10.300 km, sendo: 6382 km pelo asfalto, 2494km por terra e 1425km pela areia da praia. As médias da viagem estavam em 44km/dia, ou descontando-se os 76 dias parados, a média vai para 65 km/dia rodados. Havia pedalado 28% a mais do que havia planejado, o que me levava a crer que esta viagem ultrapassaria os 15.000 km.