Depois de 640km de praia praticamente deserta, que fiz em doze dias, cheguei em Torres, divisa com Santa Catarina, tendo completado uma das etapas mais difíceis da viagem. Difícil não pela solidão ou pela alimentação inadequada, composta basicamente de pães e doces. Difícil, pois tive que encarar um vento frontal muito forte, praticamente em todos os dias. Nos dias em que o vento veio de sul, a maré subiu e eu tive que pedalar numa areia muito fofa, ou melhor, empurrar a Nega, pois pedalar ficava impraticável. Mas, enfim cheguei e fiquei um pouquinho mais perto de casa.
Tinha a sorte de encontrar pessoas especiais e que fazem a diferença em qualquer viagem. Uma delas foi o Hamilton Coelho, um artista plástico que está montando um museu numa casa do exército bem na fronteira com o Uruguai. Muito talentoso, ele trabalha com os materiais que encontra em suas andanças, abordo de uma Toyota, mais pra lá do que pra cá, pela Praia do Cassino. Ele me deu muitas dicas do caminho. Na chegada em Rio Grande, adorei conhecer o museu oceanográfico da FURG e a galera que trabalha no CRAM, Centro de Reabilitação de Animais Marinhos. Entrei em Sta. Catarina novamente e tive uma semana realmente especial, fiquei maravilhado com tudo que encontrei. Para começar, fui conhecer os parques nacionais dos Aparados da Serra e da Serra Geral, em Praia Grande. Os Canyons são fascinantes e valeu a pena a difícil subida, sem bagagem, até a altitude de 1.000 m para contemplá-los. O dia que tirei para fazer isso foi curto e fiquei com um gostinho de "quero mais" em minha boca.
Voltei para praia em Arroio do Silva, mas tive que sair no final do dia para fazer compras em Araranguá. Para me posicionar melhor para o rally do dia seguinte, desci até o Morro dos Conventos. Esse lugar se destaca, pois é a primeira elevação desde Torres e é cercado de dunas, o que causa um efeito bem legal. No alto um farol. Seguir pela praia até o Farol de Sta. Marta era um sonho e foi melhor do que pensava, pois as dunas vão crescendo a medida que se aproxima da vila. Adorei conhecer o trabalho que a Fundação Rasgamar vem realizando na proteção das dunas e dos maiores sambaquis do mundo. Sambaqui, para quem não sabe, são plataformas de dezenas de metros erguidas com conchas e ossos de animais, pelos povos que habitavam a região a cerca de 5.000 anos.
A temporada de praia está acabando, depois da Praia do Rosa, a serra do mar aparece e faz esse litoral todo recortado, com rochões e ilhas. É bem bonito, parece Ubatuba, só que lá tem muito mais mata atlântica, bairrismos à parte. Parti do Cabo de Sta. Marta por uma trilha fantástica e conseguido pedalar bastante pela areia da praia, desde que contornando os rochões pelas íngremes, porém boas, estradas de terra da região. Fiquei na Praia do Rosa e, tal qual Garopaba, é tudo muito chique, mas bonita mesmo é a Guarda do Imbaú, que apesar de não ser boa para pedalar, é uma das praias mais bonitas que já vi. Na Guarda, um casal que, apesar de ter três filhos entre 19 e 23 anos de idade, são muito jovens de idade e espírito. Foi na companhia deles em que fiquei por lá e nos 2 primeiros dias na capital Catarinense.